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O sopro mágico das palavras

O sopro mágico das palavras

Carta a uma avó

Querida avó,

 

Nesta data que não queria assinalar, escrevo-te esta carta, para que a possas ler quando o vento soprar estas palavras até ti. Já lá vão 8 longos anos quando nem tempo nos deste para te dizermos um até já. Não esperávamos! Ainda tinhas tanto para ensinar! Partilhar essa tua sábia experiência de vida. Mas as tristezas que viviam no teu coração, as saudades do teu porto de abrigo, dessa terra que tratavas por tu foram mais fortes. Decidiste viajar para um novo refúgio para poderes estar em paz. Para que não víssemos as lágrimas no teu coração.

Ao escrever esta carta, viajo nas palavras e nas recordações do tempo. Lembro-me da infância naquela quinta, onde ainda hoje as flores nascem em teu tributo. Lembro-me dos pássaros que ainda hoje passeiam por lá e ainda nos cantam a melodia de um olá. Lembro-me das quedas na terra! Lembro-me de sorrir! E rir sem parar! Transpiro nas memórias das tardes quentes de agosto, dos almoços à sombra do castanheiro centenário que se curvou perante a tristeza da tua partida. Sinto o cheiro da bola de carne e da broa ao sair do forno de lenha, demasiado quente para comer, mas impossível de resistir. Sou capaz de fechar os olhos e sentir a mata, os pinheiros, o correr com calma para não escorregar. Sou capaz de sentir as memórias vivas embora já tenham passado anos e anos. Memórias nunca esquecidas de um tempo que não volta mas que fica preservado dentro de mim.

Vou até à janela da cozinha e ainda te vejo sentada num banco, a olhar as hortas em frente, num cenário urbano-campestre, que traziam as saudades que sentias das tuas plantações. Vegetais e fruta com sabor único que não volto a saborear! Olhavas horas a fio para estas hortas enquanto a tua mente divagava para um passado no campo que estava perdido, mas sempre agarrado a ti, porque tu e a natureza viviam numa melodia única de uma dança que poucos conseguem dançar.

Nascemos no mesmo mês de gerações distintas, e quem sabe seja essa a razão pela qual temos algo tão em comum que só nós sabemos. Um segredo só nosso! Partiste antes de me ensinares mais sobre o caminho que descubro em mim a cada dia. Partiste antes que te pudesse fazer as perguntas que sufocam o meu espírito. Porque saberias sempre o que me dizer. Mas sei que onde quer que estejas, me estás a ver e a sentir estas palavras. Tal como te sinto quando durmo, e me visitas para me confortares e me sussurrares ao coração para nunca perder a esperança deste meu único e grande sonho. Aquele sonho que é o meu segredo e que só os anjos que leem a alma o conhecem.

Escrevo-te na lágrima da saudade que cai no rosto e na saudade dos teus sapientes conselhos, que tanta falta fazem! Sei que os teus raios de luz vão iluminar o meu caminho, para que a mesma tristeza que um dia te levou para longe, não seja também a tristeza que fará definhar a minha alma.

Escrevo-te porque a memória não esquece. Escrevo-te na saudade. Escrevo-te porque sei que as palavras chegam até ti nas asas dos anjos.

Escrevo-te esta carta porque escrever é aquilo que sou, é perpetuar as minhas emoções no papel. A emoção da única homenagem que te posso dar hoje: as minhas mais sentidas palavras escritas por uma alma apertada na saudade.

Continua a viver na alegria desse teu paraíso e não te esqueças, escreve-me nos meus sonhos!

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Dia dos Avós

O calendário diz-me que hoje é dia dos avós, dia de escrever algumas palavras para estes que são tantas vezes os nossos segundos pais. Escrever o amor que sentimos. Desenhar o afecto. Pintar as alegrias. Rabiscar os sorrisos.

Recordar a infância, os arranhões, as corridas, os verões quentes, o pão quentinho acabado de sair do forno. As memórias que ficam e o tempo não as leva quando crescemos e os avós nos vigiam no paraíso onde moram. As minhas memórias que vivem e não se esquecem. As recordações que tantas vezes me assolam. A tua sempre presente alma perto de mim. As saudades que moram comigo. A estrela cintilante com quem falo na noite cerrada e que me responde com sorrisos de anjos que comigo se cruzam.  

Não só hoje, como em todos os dias, longe ou perto, perto ou longe devemos amar os nossos avós, estimá-los, acarinhá-los, cuidar deles quando necessário. Devemos estar sempre atentos à sua imensa sabedoria e aprender com eles tantas lições de vida. E como precisava tanto dos seus ensinamentos neste caminho que trilho.

Dizem que hoje é dia dos avós, por isso minha querida avó festeja o teu dia nesse teu jardim onde danças na eternidade.

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Até um dia, Chester

Anoitecia quando soube da trágica notícia que a voz dos Linkin Park não tinha resistido aos demónios que o atormentaram todos estes anos. Por momentos desejei que fosse mais uma dessas fake news sem sentido que nos inundam mas a notícia sem sentido era real, palpável que nos arranha a alma.

E rasga-me o ser, escrever estas palavras. Fui e serei sempre uma admiradora incondicional dos Linkin Park, das suas músicas, das suas letras. Conheci-os logo no lançamento do primeiro single, há uns longínquos anos, quando eu própria estava apática e morta para a vida em mim. Tempos difíceis que ficam nesse passado. A voz de Chester foi um dos muitos abanões para acordar dessa dormência em que me encontrava. Aquela voz poderosa que extravasava os seus demónios e me ajudava a expulsar os meus. Criei nesse período uma ligação com os LinkinPark que sempre me acompanhou. As músicas que me libertavam. O som poderoso das palavras que gritavam dentro de mim. A emoção. A sinceridade de quem não se esconde.  

Felizmente ainda tive a oportunidade de os ver em concerto e recordar a voz que me fugiu no entoar das músicas. Uma tão boa recordação. Uma memória que não se voltará a repetir.

Chester ajudou-nos a libertar na música os medos, os fantasmas, a encontrar a força para os enfrentar, mas ele próprio não os conseguiu enfrentar e desistiu. Mas deixou essa força nas músicas que ficarão eternamente a tocar em nós.

Descansa em paz onde os teus demónios não te atormentem.

Até um dia, Chester.

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#opinião# Julia Navarro "A Irmandade do Santo Sudário"

Manhã. Um jardim. Termino o livro e fecho-o. Mas ainda levo comigo as personagens desta história que me acompanharam durante alguns dias. Corro para o comboio, prendi-me no desfecho e o tempo viajou velozmente no relógio, tão absorvida que estava nestas páginas finais. Era impossível parar de ler. Magia da escrita de Julia Navarro, esta de nos aprisionar às suas histórias. E como adorei estar presa a este policial histórico que retrata a lenda do Santo Sudário, o pano em que Jesus Cristo teria sido envolto após a crucificação.  

O livro inicia-se com o relato de um misterioso incêndio na Catedral de Turim, repositório do conhecido Santo Sudário, que levou à morte um homem com algumas sequelas físicas pouco comuns: sem língua e com as impressões digitais deformadas.

Para tentar esclarecer este invulgar caso conhecemos Marco Valoni, detective do “Departamento de Arte” da Polícia Italiana e a sua equipa, onde se destaca Sofia que terá um papel de destaque nesta história. A investigação leva a crer que se trata de algo mais do que um acidental incêndio, trazendo à memória um acontecimento, ocorrido no mesmo local, anos antes e que tinha no seu epicentro um ladrão… sem língua e desprovido de impressões digitais. Começa assim uma extensa busca pela verdade destes acontecimentos pondo em risco a vida de Valoni e a sua equipa.

Intercalando com o agora, iremos conhecendo a história do Sudário, e iremos compreender o porquê das tentativas de roubo, o porquê dos roubos não terem sucesso, a razão da língua amputada. Este livro atravessa séculos e cruza continentes, desde os céus tempestuosos sobre o Calvário até às modernas cidadelas de Istambul, Nova Iorque, Londres, Paris e Roma, em que as conspirações serão uma constante.

Voltaremos a ouvir o nome dos Templários e ficaremos na dúvida se sobreviveram à história do tempo e ainda são reais nos dias de hoje. E se sim, quem serão estes Templários da era moderna?

O desfecho, nos labirintos de Turim é imprevisível recheado de sensações e muitas emoções e que irá afectar todas a personagens com quem nos cruzamos durante todas estas páginas.  

Para quem adora história como eu, é sem dúvida um livro a ler, porque nos transporta para outros tempos numa sempre insaciável curiosidade. Por isso recomendo este livro de leitura fácil mas intensa. Que nos pode acompanhar nos nossos vários momentos do dia.

Um livro cativante que deve ser lido.

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