Acabo de fechar “Uma Coluna de Fogo” de Ken Follett e não consigo despedir-me de Ned Willard e todas as personagens que viveram comigo nas últimas semanas. Fui sendo suavemente embalada pelas palavras do autor que nos foi apresentado as personagens e os seus cenários até sido arrebatada pela história de protestantes e católicos numa luta sangrenta em que a liberdade religiosa era uma miragem.
Voltamos a Kingsbridge depois de “Os Pilares da Terra” e o “Mundo sem Fim” desta vez em 1558 quando começa esta nova história com o regresso de Ned Willard à sua terra e vê a cidade dividida pelo ódio de cariz religioso. Uma Europa que vivia tempos tumultuosos, em que os princípios fundamentais colidiam de forma sangrenta com a amizade, a lealdade e o amor. Ned e Margery Fitzgerald, a rapariga da família quase inimiga e com quem deseja casar têm visões diferentes da religião, mas unia-os um amor e a convicção que a religião não podia ser sinónimo de morte. Como tantas vezes é descrita, homens, mulheres e crianças condenados à morte pela sua religião. Descrições arrepiantes do que aconteceu há tantos séculos atrás e que ainda hoje, embora com diferentes tonalidades, às vezes acontece. É só lembrarmo-nos do terrorismo.
Conhecemos também personagens históricas reais como Isabel Tudor que sobe ao trono, e toda a Europa se vira contra a Inglaterra, por ser protestante e proclamar a tolerância religiosa. A jovem rainha, perspicaz e determinada, cria desde logo o primeiro serviço secreto do reino, cuja missão é avisá-la de imediato de qualquer tentativa quer de conspiração para a assassinar, quer de revoltas e planos de invasão. Uma missão que não termina com o término da sua vida como veremos muito à frente no livro. Isabel sabe que a encantadora e voluntariosa Maria, rainha da Escócia, aguardava pela sua oportunidade em Paris. Pertencendo a uma família francesa de uma ambição brutal, Maria foi proclamada herdeira legítima do trono de Inglaterra, e os seus apoiantes conspiram para se livrarem de Isabel. É em Paris que nos cruzamos com Pierre Aumande, um jovem ladrão, filho ilegítimo de uma família importante, os Guise, que procura ascender socialmente a acaba no meio da corte francesa e de intrigas palacianas. Uma personagem que no início até nos pode suscitar alguma complacência mas que iremos odiar arduamente toda a sua impiedade enquanto homem. No entanto, para mim é uma das personagens mais bem conseguidas da história.
Poderia aqui correr as personagens que fazem este livro mas seria demasiado extenso e nada melhor do que ler e sentir as emoções das personagens como se fossem as nossas emoções. O desprezo de Bart Shiring que casa com Margery. O odioso Rollo. A sensata rainha Catarina de França. A ambiciosa Allison. E outras tantas personagens que alimentam as páginas deste livro.
Personagens fictícias que se envolvem com personagens históricas tão característico deste autor e que também já nos habituou a um misto da componente histórica com a espionagem que é já seu habitual.
São 767 páginas de pura emoção numa mistura entre suspense e romance histórico que quem lê não consegue largar o livro e continuar o seu dia. É um querer saber o que acontece a seguir. Um espicaçar de curiosidade que nem todos os autores conseguem. E garanto que nos saltos do tempo entre as quase 70 décadas que este livro retrata, ainda conseguiríamos ler outras inúmeras páginas porque haveria tanto para escrever. Porque adoro este autor por conseguir escrever sem nunca se repetir e termos sempre vontade de ler mais e mais, como se fossemos almas ávidas por palavras.
Como sempre e como já esperava, mais uma brilhante obra de um dos meus autores de eleição. Por isso recomendo vivamente esta leitura. Numa esplanada, no sofá com a manta e o chocolate quente. Cenários ideais para leituras soberbas.