São 18h de um dia de trabalho cansativo. O comboio cheio de rostos desconhecidos. Uma fila para o autocarro que cresce no crescer da noite. E eu absorta nas últimas páginas de “Só nós Dois”. As lágrimas que queria esconder refletem as emoção que as palavras escreviam em mim. Como sempre Nicholas Sparks tem a varinha mágica para esta escrita emocional que nos emociona sem nos deixar indiferente.
Já há alguns anos que não lia nada deste autor, mas recordei que são poucos os livros que não acompanhe com lágrimas. Mais uma história que se agarrou ao meu coração. Tantas vezes que fechava o livro mas Russell, a London, Marge, Emily e Vivian continuavam comigo pois sentia-me uma espécie de observadora intrusa daquela tão simples história familiar. É na simplicidade de histórias banais, corriqueiras que tanto acontecem que conseguimos escrever a intensidade deste nosso sentir que é simplesmente viver.
Como disse uma história aparentemente comum nos nossos dias. Russell é casado com Vivian e têm uma filha, a London, pela qual vão ficar perdidamente apaixonados, eu ainda estou rendida a esta menina de 6 anos. Um casamento típico que de um momento para o outro muda de forma abrupta. Quase que podemos dizer que há uma inversão de papéis, pois Russell passa a criar London praticamente sozinho. Um momento inesperado que vai fazer crescer tanto esta personagem. Quantas vezes me apeteceu entrar pelo livro e dar-lhe um abanão, mas mesmo forte para que tomasse uma atitude corajosa e enfrentasse Vivian, que se tornava exasperante. Quando as pessoas se deslumbram apenas com o lado material da vida deixam de existir e Viviam é exemplo disso.
Encontramos Marge, irmã de Russell, com a qual partilha uma das mais amizades que pode existir, sincera e eterna. Juntos enfrentam a vida. Juntos confortam-se. Juntos sorriem e juntos constroem memórias inesquecíveis de risos e momentos. Tantas situações contadas ao longo do livro que nos fazem sorrir com estes irmãos.
Ainda me sinto a tristeza das personagens na despedida a Marge, Liz, a sua namorada. Neste livro ao autor retrata a aceitação por parte de pais católicos a orientação sexual de Marge. Os pais de Russell e Marge, personagens que pelas suas características nos vão tocar sobretudo a forma como o pai demonstra o amor que tem pelos filhos. Nem sempre só os abraços são sinónimos de amor. E como me emocionei na luta inglória de Marge como este demónio chamado cancro, e não conseguia esconder as lágrimas dos rostos desconhecidos que passavam por mim enquanto lia.
Como diz Russell, Marge tinha sempre um plano. E será que nesse plano, estava que Russell iria continuar a educar a sua filha com tanta luta com Vivian que podia ter descido a um nível muito degradante?
E será que nesse plano, estará Emily, um antigo amor de Russell , que reencontra nas estranhas não coincidências da vida, pois Emily é mãe de Bhodi, o melhor amigo de London?
Perguntas que deixo para que depois de lerem este romance possam responder.
Uma história para ler, uma história de pessoas que se encontram a si mesmas.
Uma história escrita de emoções e pintada de sensações.
Um livro que nos fala de amor, traição, dedicação a um filho, doença.
Enfim, um livro que nos fala da vida de cada um de nós.