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O sopro mágico das palavras

O sopro mágico das palavras

Uma foto tua!

Desculpa o meu coração por roubar uma foto tua. Não me desculpes a mim. O meu corpo apenas acatou uma ordem desta minha alma errante e sem perdão. Prende o meu coração se te ofende, mas prende-o longe de ti. Não o encarceres mais dentro de ti.

Desculpa o meu coração por querer guardar os traços desse teu rosto. Guardar esse teu olhar a descoberto no cantinho mais especial de mim. Aquele lugar que tem o teu nome. Que só eu conheço. Que visitas nos nossos sonhos.

Desculpa o meu coração. Não me desculpes a mim. O meu coração tem medo de perder a memória e não mais lembrar-se de como és.

Desculpa o meu coração por desgastar essa tua foto de tanto olhar minutos e minutos sem pestanejar quando o ruído da vida ao redor é o teu silêncio.

Desculpa o meu coração por esta intrusão. Não me desculpes. Eu sei que nunca haverá a nossa foto. Mas esta alma sabe que um dia voltará a fotografar a tua alma com os meus olhos. Não será agora. Um dia lá longe do horizonte do hoje.  

Desculpa o meu coração por  querer olhar para uma foto tua na angústia da noite. Não me desculpes a mim. Olhar para ti, atrasa a queda do meu coração no abismo da morte.

Prometo-te que a minha alma não mostrará a tua foto a outros olhos. Apenas eu vou gastar o papel do tempo a olhar para ti. Parar os segundos, olhar para ti, depois continuar a viver e voltar a parar, porque quero olhar mais uma vez para essa foto tua.

Quero poder olhar sempre para ti quando o nosso caminho deste agora não mais se cruzar. Quando passearmos por outras paragens. Não me quero esquecer de ti. Da tua aura. Deste encontro de almas que levarei de ti.

Desculpa-me por roubar a tua foto, pois no dia em que partir, a minha alma adormecida leva-te no coração para te voltar a reconhecer quando nos voltamos a encontrar num outro presente.   

Como nos reconhecemos naquela tarde em que olhamos para as fotografias de nós que trazíamos no bolso do coração.  

 

Imagem : Internet

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A zumba não vai de férias!

Agosto entra no calendário. As férias aproximam-se. O tempo começa a aquecer. É tempo de quebrar rotinas. De hábitos disruptivos. É tempo de desligar. De carregar baterias. Dos pés na areia. De deitar na cama verde do campo.

Tempo de estramos sós ou em companhia e deliciarmo-nos com cada momento que registamos na nossa alma.

As férias são sinónimo de pausas nos dias. A pausa do trabalho. A pausa de ir levar os filhos à escola. A pausa nos cursos. A pausa no comboio da manhã. A vida dita normal que fica em suspenso.

É a nossa pausa para podemos continuar a seguir caminho.

Deixo os meus livros de férias na estante. O computador desligado das palavras. Os cadernos a relaxarem. Tudo ali a um canto à minha espera. Afinal são apenas uns dias o seu descanso de mim.

Mas por entre banhos de água salgada, areia colada ao corpo, passeios pintados de verde, tiro uns minutos da minha pausa anual e vou zumbar. Porque a zumba não tira férias de mim. Ali continuo a carregar as baterias para mais e mais desafios que chegam.

Apresso-me na leveza de umas férias e vou para mais um daqueles momentos de esquecer o que tantas vezes não se esquece. Lavar a alma.

Porque a zumba fez-me apaixonar por ela. A alegria de dançar. As coreografias. Sorrir por entre passos e movimentos. Porque tenho uma daquelas sortes imensas de ter as melhores instrutoras que podia ter encontrado. O carinho, a dedicação, o incentivo tiraram-me da última fila de uma aula para ir para a frente sem medo de falhar passos. E se falhar é só seguir. Haverão outros passos.

Atordoada das conversas com o mar. Os ouvidos ainda cantam as melodias da cigarra. Nem me apercebo dos acordes de mais uma música. E faço uma daquelas caras que pergunta “mas que música é esta?”. Tens a tua instrutora a dizer que ainda é do meu tempo. Percebo que já passei do escalão dos iniciados para as veteranas. Já lá vão mais de 4 anos. Que caminho tão bom tem sido esse. Cada passo de dança é mais um pouco da viagem dentro de mim mesma.

Tantas vezes as coisas boas da vida não vem embrulhadas com o rótulo a dizer “Isto é uma coisa boa da vida”. Vamos descobrindo aos poucos. E aos poucos estas minhas instrutoras já não são “apenas a Instrutora”, são tão mais que isso. São aquelas pessoas que levarei sempre no coração, porque a alegria que deixam em mim ajudaram-me tanto a redescobrir o meu sorriso, outrora tão perdido. A não ter medo de descobrir mais paixões. De arriscar. De sair da zona de conforto.

Por isso a zumba nunca tira férias, porque me faz feliz, e o que nunca faz feliz nunca pode ir de férias (só umas ligeiríssimas interrupções)!

 

Imagem : Internet

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Demónios

Salva-me dos teus demónios que me atormentam. Que me tornam insana. Leva-os para longe de mim. E de ti. De nós. Para um lugar sem retorno. Onde não nos possam ver. Que ceguem.

Salva-me desses teus demónios que vivem em mim. Que ficaram colados às minhas memórias. Que me circundam. Que não me deixam fugir. Que me torturam cada vez que te vejo. Que me fazem arder de dor.

Salva-me destes demónios. Salva-me deste penhasco emocional.

Estes demónios, o que resta de um amor destruído. Que a vida assassinou. Demónios que o tempo não enterra. Que não deixam o amor voltar a conversar.

Os demónios que vão e voltam cada vez que nos reencontramos nas diferentes estradas da vida. Aniquilados, cada um no lado oposto dessa estrada. Os demónios que não nos deixam atravessar para o outro lado sem sermos atropelados pelas rodas de um furioso destino que circula apressado. Que continua silenciosamente a destruir-me. Sem poder renascer. Sem podermos reconstruir aquilo que deixamos lá atrás.

Salva-me do teu fantasma que me persegue. Que me visita nas sombrias noites de desolação. Que se senta na minha cama. Que sussurra o teu silêncio. Que traz consigo a tua alma. Sinto-te. Olho para ti. Vais embora. Fica apenas o fantasma de ti. Leva-o para longe de mim. Abandona-o no passado que ficou espalhado nos nossos destroços. Vem apenas tu para o presente.  

Não te culpo por esses teus demónios soltos que me consomem. Não posso culpar os nossos corpos que agora vestimos pela distância de um toque. Não te posso culpar pela mágoa das nossas almas. Pelas reminiscências de ti que trago agarradas a mim.

São os demónios de uma vida que viajam connosco. Que não nos largam.

Até ao dia em que tivermos coragem para os enfrentar.

 

Imagem : Internet

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Conversas silenciosas

Continuam as nossas conversas silenciosas de final de tarde. Qualquer que seja esse dia da semana. Seja verão ou inverno. Agosto ou dezembro. Conversas sem feriados ou fins-de-semana. Conversa de almas que se entendem. De sorrisos escondidos. Conversas de olhares cruzados.

Escrevo-te para que mais tarde me possas ler. Olhas. Sim, é para ti que escrevo. Repito as conversas que se perdem no meio das vozes à nossa volta. Para não esquecer o que dizemos um ao outro. Escrevo-te o que sinto ali, naquele momento. Para quando a noite for a nossa distância te possas sentar e ler estas palavras. E pensares, se serão para ti, dizendo-te o teu coração que são. Sem falarmos. No silêncio.

Mas continuamos as nossas conversas silenciosas nos dias seguintes. Conversas de minutos. Que se prolongam para lá de um até amanhã. Porque as almas errantes deambulam no silêncio dos nossos lábios e nos sussurros do coração.

E continuo a escrever-te. A escrever-me. As tuas conversas silenciosas que me inspiram.

Um dia talvez deixemos este medo de lado e os nossos corpos possam conversar. Tornar reais as palavras. Talvez um dia possa chegar tão perto de ti e sussurrares o que dizes à minha alma. Sem barreiras. Um caminhar livre.

Já nada tenho a perder se me abeirar de ti. Falar. Sem fingir o que não és. Porque me perdi de mim naquela tarde em que silenciosamente conversamos pela primeira vez.

Apenas poderia cair nesse abismo que me rodeia e no qual escorrego passo a passo cada vez que te vejo, sem me poder agarrar a ti. Até chegar o dia em que cair totalmente no abismo sem poder voltar a sair dele. Do abismo do teu nome.

Mas as nossas conversas silenciosas serão imortais. O nosso eterno segredar.

 

Imagem : Internet

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#opinião# Colleen McCullough "Uma Obsessão Indecente"

Antes de as férias entrarem no calendário, decidi escolher um livro relativamente curto. Uma oportunidade da Feira do Livro na estante, a recordação de uma outra leitura desta autora e o cenário da 2ª Guerra Mundial foram mais que factores para que “Uma Obsessão Indecente” de Colleen McCullough fosse a minha opção.

A 2ª Guerra Mundial havia terminado há pouco tempo e na enfermaria X, apenas restam cinco pacientes e a sua dedicada enfermeira Honour Langtry. Inesperadamente, chega mais um paciente àquela unidade, Michael Wilson. Esta não é uma típica enfermaria, a enfermaria X é uma ala psiquiátrica, destinada a combatentes dos trópicos com doenças mentais provocadas pela guerra.

Cinco homens – o líder da enfermaria Neil Parkinson, o cego Matt Sawyer, o doentio Nugget Jones, o sádico e amoral Luce Daggett e o totalmente alienado Benedict Maynard, em nada iguais, diferentes personalidades, distintos problemas, mas que se habituaram a viver entre si, sempre com a enfermeira a protege-los, sentindo uma verdadeira devoção para com ela. E ela vive para eles, ama-os maternalmente.

Com a chegada de Michael, um sargento aparentemente sem qualquer mazela psicológica, a rotina e o frágil equilíbrio do pequeno grupo sofre um abalo. Imediatamente há um notório interesse que Langtry começa a nutrir pelo recém-chegado, que tem a vantagem de não ser emocionalmente afetado como os outros companheiros. Contudo, as aparências enganam e o seguro Michael é, afinal, uma pessoa atormentada pelo passado, embora evite demonstrá-lo. Um segredo que esconde. Que será o rastilho para muito do que vai acontecer na enfermaria.

Não é um livro com muita ação, mas em contrapartida é psicologicamente denso e intenso, em que são abordados temas como o amor obsessivo, o amor platónico, os traumas pós-guerra. São palavras tristes de uma realidade que não foi ficção. Estes traumas, foram sem dúvida baseados em factos reais desde matarem inocentes, a não conseguirem proteger o seu pelotão. Vamos encontrar relatos diversos.

A poucos dias da desmantelação da enfermaria, o adensar dos conflitos e a instabilidade da enfermeira Langtry, terão um trágico que vos deixo em aberto.

Acontecimento esse que de certo modo irá conduzi-los para o desfecho deste livro. A rotina que ficou à espera deles antes da guerra não poderá ser retomada. A vida que outrora tiveram foi destruída com a destruição da guerra.

E veremos isso no desenlace de todos estes sobreviventes da guerra, mas quem sabe se sobreviverão ao pós-guerra?

E como será o desfecho desta obsessão entre Michael e Honour?

Algumas perguntas que ficam em aberto que não fiquem condicionados nesta leitura.

Uma história diferente da 2ª Guerra Mundial, uma leitura emocionalmente violenta pelos factos que retrata.

Pessoalmente não foi dos livros que mais me marcou, à exceção foi o final que acharia sempre que seria o mais previsível, mas a realidade não é previsível. Logo, o final é expectável mas que não o teria como o que aconteceria.

As últimas linhas foram realmente intensas para mim. O que guardo deste romance.

Uma boa leitura para momentos soltos.

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A leitura de Uma Aventura…..na praia!

Desde que me conheço que os livros sempre foram um amigo. Antes de me serem apresentadas as palavras e na minha ignorância de criança de como um livro é uma preciosidade, riscava-os. Acho que na altura já era o que entendia por escrever.

Com a entrada na escola primária vieram os primeiros livros. Lembro-me de num natal desembrulhar um dos muitos livros de “Uma Aventura”. Ali nascia uma companhia para a vida.

Foram anos de infância e adolescência a ler e reler todos os livros que iam sendo publicados. O tempo cresceu e eu cresci com esse tempo, mas sem nunca esquecer que o amor pelos livros estará sempre na memória pintado por estas histórias.

Hoje já não sou aquela menina. Hoje sou uma mulher que continua a amar as palavras e os livros são uma espécie de oxigénio que precisa para respirar.

Este ano decidi que a praia seria sem os densos livros que me costumam acompanhar. Talvez por passar todos os restantes dias do ano com um livro debaixo do braço, resolvi que os meus livros também têm direito a férias. Ficaram em casa a repousar.

Quero aproveitar este descanso para redescobrir a minha criança. Aquela que vive escondida dentro de mim. Que precisa de sorrir.

Preciso de alimentar esta minha criança com amor. Mima-la. Fazê-la sentir viva.

Uma infância que tantas vezes não foi a infância que deveria ter sido. Hoje, vou fechar os olhos à idade do meu cartão cidadão e vou dizer olá à menina Ana que está cá dentro. E nada melhor que uns belos livros da coleção de “Uma Aventura” que continuo a fazer e que me acenam tantas vezes da prateleira.

Estão 40º à sombra. A areia ferve nos pés. O protetor solar sua na pele. As ondas conversam. A bola de berlim na mão.

Pego na minha aventura e deixo-me viajar por entre os mistérios destes meus 5 amigos e os seus dois cães. As saudades que já tinha deles. Parece que foi ontem que os li pela última vez.

Os outros podem olhar, uma leitura tão juvenil, mas que me interessa. Que bem me souberam aqueles minutos. Antecipar a aventura. Prognosticar o desfecho. Sentir-me mais leve. A mente despreocupada. A inspiração.

Os outros continuam a olhar. E eu feliz!

Era tão bom que não tivéssemos vergonha de deixar a nossa criança sorrir por nós adultos! 

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