Mudou a hora nesse domingo que foi!
Mudou a hora nesse domingo que foi. Que ainda espreita na esquina do mês de outubro. O dia que passa a ir descansar mais cedo deixando a noite para nos fazer companhia durante mais tempo. Para construir memórias de arco-íris quando dia e noite se diluem um no outro. O sol que se refugia nos seus raios e lá se abriga no repouso de um cansativo verão de momentos.
Mudou a hora nesse domingo que foi. Para que as manhãs amanheçam cedo no horizonte. Abrir a porta e ser recebida já com esse sol a piscar-nos o olho lá do alto do céu. Sentir a geada no nariz e as gotas do orvalho que pingam no cabelo. Num sol que nos faz cócegas depois uma longa noite de sono.
Mas essas manhãs de sol madrugador são as mesmas manhãs que aconchegam esse teu sono. Lá longe. Que te querem só para elas. Que não me deixam acordar o teu rosto.
Mudou a hora nesse domingo que foi. Restam-me as sempre tardes que se tornam sombrias antecedendo as negras noites de inverno com os teus olhos mel-outono a descoberto. As tardes frias dos relógios. Os passos que paralisam e não te conseguem encontrar. Como hoje e ontem. Como se esse maldito domingo ao atrasar a sua hora atrasasse o meu olhar do teu.
Mudou a hora nesse domingo que foi. E agora se além das manhãs invejosas que te roubam de mim, vierem as tardes de inverno sem ti. Encobertas. O sepulcro da minha esperança. O silêncio do meu desistir. E se as tardes, invejosas das manhãs, também te sequestram? Se voltar atrás e a hora ficar igual, será que me é devolvido o teu olhar mel-outono aos meus dias?
Mudou a hora nesse domingo que foi. E deixou uma tristeza em mim. Como te tivesse deixado naquela hora. Como se os teus passos fossem aqueles ponteiros a andarem em sentido contrário aos meus passos. Sem consegui-los trazer até mim.
Mudou a hora nesse domingo que foi. E nessa hora que foi. Foi como se a minha vontade de viver tivesse lá ficado. Contigo.
Imagem : Internet