32407 e 34902 – não são números escritos ao acaso. São dois dos milhares de números tatuados nos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau. As nossas personagens. Reais. Não ficcionadas para um romance. Números que comprovam a existência de um Holocausto que muitas mentes teimam em negar.
“O Tatuador de Auschwitz” é uma das muitas histórias vividas e contadas na primeira pessoa que relatam a crueldade pela passaram nos campos de concentração. Heather Morris escreve-nos as memórias de Lale Sokolov que com ela partilhou após a morte da sua mulher.
Lale chega a Auschwitz-Birkenau em 1942 e após sobreviver à febre tifoide é incumbido da tarefa de tatuar os outros prisioneiros. As experiências que relata são de uma barbaridade total que nos repugnam ao ler e saber que aquilo aconteceu mesmo. Que não foi inventado. Momentos como um prisoneiro cair e ser morto imediatamente, experiências macabras de Mengele, entrar num crematório antes de milhares de judeus serem exterminados nas camaras de gás. Pessoas despojadas dos seus pertences, da sua roupa, da sua identidade. Pessoas que se tornam ossos com a pouca ração que lhes é concedida.
Por ser o tetovierer (tatuador) que lhe dava alguns pequenos privilégios como ter comida extra e ter mais alguma liberdade para andar no campo, consegue algumas joias de outros prisioneiros que troca por comida. Um esquema perigoso com trabalhadores de fora que trabalham neste campo de concentração. E distribui a comida pelos outros prisioneiros do bloco, pelos doentes. Um chocolate que serve para poder ver a sua amada, Gita. A comida era um suborno. O bem mais desejado por todos assim como a liberdade. É tão singular a descrição do êxtase ao comer um quadrado de chocolate como se fosse a melhor iguaria do mundo. E para aquelas pessoas era, porque já nem sabiam o que era a comida.
Gita é uma das milhares de raparigas em Auschwitz-Birkenau e tatuada por Lale e logo nesse primeiro contacto de olhos surge ali um sentimento. Que cresce quando a vida naquele campo diminui. Lale que faz de tudo para a proteger. Porque sempre disse que iriam sair dali com vida. Num sítio que cheirava a morte, ainda havia amor puro e verdadeiro.
Lale durante toda a sua vida se sentiu culpado por ter de tatuar e marcar os seus iguais. Mas em Auschwitz ou se era escolhido ou se era morto. E Lale optou por viver, embora a morte tenha estado na sua cama por várias vezes.
Não sei como apelidar esta leitura. Uma realidade perversa de mentes depravadas. Uma história real. Perturbadora. Um relato violento, atroz. De sobrevivência, Lale esteve em Auschwitz três longos anos. Mas que nos impele a ler cada página. A sofrer com as nossas personagens. E com todos os restantes prisioneiros cujo caminho se cruza com Lale e Gita. Palavras que nos apertam o coração e balançam o estômago.
Um livro de amor. De esperança.
Um livro para todos lermos e nos lembramos de que o Holocausto existiu para que nunca mais volte a acontecer e que as gerações futuras não tenham de ler histórias como estas.
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