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O sopro mágico das palavras

O sopro mágico das palavras

Gastar o teu rosto!

Às vezes pergunto-me se um dia o meu pensamento não irá gastar demasiado o teu rosto. Torná-lo disforme. Imperfeito. Porque o teu rosto cegou os meus olhos. Que só a ti te veem. Todos aqueles dias em que te vejo em todos os outros rostos à procura do teu. Naquelas tardes em que o meu pensamento só te vê a ti sem estares ali. Estarei eu a gastar o teu rosto? Por viveres no meu pensamento. E olhar para ti de olhos fechados como se estivesses mesmo ali. Como se estivesse a ficar louca!

E, depois, naquelas outras tardes escuras de reflexos iluminados pelos candeeiros de rua. Quando os nossos olhos se tocam volto a decorar cada traço, cada ruga, cada sorriso, cada gesto teu para ter sempre o esboço do teu rosto dentro de mim.

Porque tenho medo de gastar o teu rosto só porque penso em ti. E tenho de o desenhar um infinito de vezes para que nunca se apague de mim e me lembre porque a alma do teu olhar te pincelou assim tão bonito!

Imagem : Internet

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#opinião# Debbie Macomber "O Brilho das Estrelas"

Novembro a terminar o calendário, o frio já se faz sentir no quente dos gorros matinais, a árvore de natal já enfeita nas decorações da casa e as ruas já estão vestidas a rigor para receber mais um natal. Seguindo uma recente minha tradição, ler histórias de natal ou que se relacionem com a época, seja apenas o inverno, foi tempo de inaugurar as leituras natalícias. Este ano comecei por Debbie Macomber e “O Brilho das Estrelas”, uma autora ainda desconhecida para mim mas que uma daquelas promoções me fez descobri-la. E como gostei de conhecer a sua escrita doce e suave.

Encontramos Carrie Slayton, uma jovem jornalista da coluna social de um importante jornal mas que se encontra saturada e desmotivada do tipo de artigos que escreve. Para que possa mudar a sua área no jornal, o diretor lança-lhe o desafio de conseguir uma entrevista com Finn Dalton, autor de um bestseller, que há meses se encontra no top de venda. Mas Finn é um solitário que não se deixa entrevistar (talvez por isso o título do seu livro seja “Sozinho”). Carrie aceita o desafio pois não tem nada a perder. Determinada e persistente vai à descoberta de Finn que vive num local inóspito e selvagem do Alasca.

Depois de inúmeras peripécias, Carrie encontra Finn, um homem de sentimentos fortes e intensos, magoado pela mãe que o abandonou, causando nele uma mágoa profunda para com as mulheres. A barreira que ele criou à sua volta, Carrie com a sua personalidade aos poucos vai derrubando esse muro à volta de Finn. Como quando observam a aurora boreal do Alasca, uma descrição magnífica e espantosa que nos deixa a todos com vontade de conhecer esta região. Cenários árticos deslumbrantes, uma beleza gelada e hipnotizante. Um local onde as estrelas brilham e iluminam uma cabana no meio da neve, o cenário romântico desta história.

Mas depois da partida de Carrie, com ou sem entrevista, ambos percebem que ali nasceu algo muito forte e profundo como eles o são. O assumir o que sentem. A conquista mútua. A luta para ficarem juntos. Avanços e recuos. O dar e ceder.

Uma história de amor. De esperança. De acreditar. E sobretudo, uma história que nos diz que nunca mas nunca devemos fechar o nosso coração por maior que seja a mágoa que nele vive.

Um livro ideal para esta época natalícia que se lê assim, um ápice, enquanto se bebe um delicioso chocolate quente a acompanhar!

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Chuva!

Uma tarde escura que parecia noite. O céu negro. As nuvens aconchegadas umas nas outras. Que escondiam o dia. Ainda não se sentia o aroma a jantar no baloiçar do vento. Ainda os pratos do lanche se ouviam nos cafés.

Chovia suavemente. Para de repente chover copiosamente. No regresso a casa. Abriguei-me da chuva. Vê-la cair na estrada no reflexo da luz dos candeeiros de rua. Numa entoação sincronizada de ping ping.  

E assim num repentino de repente, tu. Nesses teus passos que a minha alma ouve ao longe. O teu rosto a passar veloz por mim. Sem me veres. Bonito. Cada dia mais bonito. Como se naquele troço de estrada onde há segundos a chuva caia a potes, a chuva parasse para que eu te pudesse ver. Assim, bonito.

Porque naquele segundo a chuva conseguiu tornar-te ainda mais naquele encanto cintilante que és. E mesmo sem me veres, senti esse sorriso teu!  

Imagem : Internet

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Um outono de fim de ciclos

A lua bem cheia alta no céu numa luz demasiado brilhante que rasga este dia demasiado sombrio. O teu sorriso ali sem saber que por dentro a alma doía. E sorriste. E voltei a controlar as lágrimas neste dia que foi. Mas não podia chorar ali. No meio da multidão. E era o que mais precisava. Chorar.

As gotas de chuva que por segundos escorrem pelo meu rosto. As folhas que pingam. Uma folha que cai. Um outono de fim de ciclos. Ficamos com as memórias que quais troncos ficarão ali para sempre na amizade que não termina neste fim de ciclo. Vamos plantar novas sementes para novas primaveras.  

Há uma ferida aberta que vai demorar tempo a sarar. Novos hábitos que jamais substituirão os que ficam para trás. Novos encontros para rirmos daquilo que um dia fomos. As nossas histórias.

Às vezes a vida pode fazer umas belas sestas, mas não estava a dormir quando os nossos passos se cruzaram há quase uma década. E que vão continuar a cruzar-se.

Há uma gratidão imensa no meu coração por me teres ajudado a crescer. Por tanto que me ensinaste. Por tudo o que aprendi neste ciclo de companheirismo e amizade que não serão apagados pelo tempo.

Os nossos momentos ficam. E sei que vamos ter muitos mais momentos que vão ficar.

Imagem : Internet

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Tardes Malditas!

Que tardes malditas estas que não te deixam abeirar de mim, enquanto a minha alma esmorece numa fraqueza de quem vê o desconhecido do amanhã se tornar uma incógnita ainda maior. A incerteza constante.  A dúvida.

Que tardes malditas estas sem o teu rosto para sentir o meu coração morrer mais um pouco enquanto respira a vida que és. Como desfaleço a cada final de dia nestas estradas cruzadas que descruzam os nossos passos.  

Tardes negras, escuras e obscuras de dias sombrios que carregam a escuridão dentro de nós. Uma nuvem tingida de escuridão que não nos larga. A mim e a eles.

E agora, nestas tardes malditas, quando posso fraquejar sem que os outros vejam. Quando posso deixar que a tristeza da alma transpareça no olhar. Porque a força também se vai esgotando quando tens de partilhar essa força com eles neste sorriso cúmplice que não se pode desfazer. E nessas tardes malditas em que os joelhos tremem, não estás lá. Nos mesmos lugares. Nas mesmas horas. Apenas para inspirar a doçura do teu sorriso e seguir. Dormir. Sem chorar a dor porque estaria a recordar cada traço teu. Uma e outra vez. Como faço quando paro e olho para a tua foto. Para sentir que um dia há demasiado tempo atrás quando ainda não eramos o que somos hoje, escolhi amar-te e carregar a mágoa desta nossa perda dentro de mim. E querer ver-te é querer sentir que o meu coração ainda bate no meio destas tardes malditas. Que ainda está vivo.

Não escolhi a tristeza que hoje me assola. Um desapego forçado. Fulminante. Um medo que tenho de enfrentar e do qual tanto fugia. Mas a tua alma consigo enfrenta-la porque me conforta a dor. Mas não tens estado ali. Lá. Quando espero por ti.

Nestas tardes malditas que me despedaçam a vida, essa saudade que sinto de ti torna o bater do relógio na tortura de lágrimas que não se escondem da solidão da noite. Quando ninguém nos vê, a mim, à dor, à tristeza, às minhas lágrimas-tuas.

Porque nestas tardes malditas, o teu olá seria a minha esperança no amanhã.  

Imagem : Internet

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#opinião# Patricia Posner "O Farmacêutico de Auschwitz"

Mais uma daquelas leituras de descrições tenebrosas do que aconteceu no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. “O Farmacêutico de Auschwitz” é um relato chocante e arrepiante de como os gigantes da indústria farmacêutica alemã apoiaram o regime nazista, fizeram fortunas com as câmaras de gás (o saque dos pertences dos prisoneiros que levavam consigo ouro e joias sem saber que iam ser despojados dos seus bens) e usaram cobaias em experiências macabras, muitas que possivelmente deram origem a muitos dos medicamentos que hoje usamos.

Patricia Posner relata-nos de forma fria e cruel uma faceta ainda do pouco que possa existir para ser conhecido do campo da morte que foi Auschwitz. Como farmacêuticos, médicos e enfermeiros se renderam ao horror da ciência de Hitler, responsável pela morte de milhões de vítimas. Victor Capesius é um farmacêutico de um desses gigantes da indústria farmacêutica e como a sua ida para Auschwitz vai torna-lo num cúmplice ativo no extermínio dos judeus. Como o seu papel foi determinante na morte de milhões de inocentes.

Um livro que resulta de uma minuciosa e longa investigação sobre a vida deste homem, Victor Capesius, farmacêutico romeno representante da Bayer que, em 1943, aos 35 anos, se juntou a SS nazista e rapidamente se tornou o farmacêutico-chefe de Auschwitz . É nos narrado desde o seu início de vida até entrar em Auschwitz, contando o seu percurso profissional. Baseada em relatos verídicos, a autora confronta-nos inúmeras situações em que desprezamos veemente este homem. Desde estar na seleção que se fazia à entrada do campo de concentração e não sentimentos e enviar conhecidos para as camaras de gás. Não ouvir as súplicas de pessoas que o conheciam antes. O saque dos dentes de ouro dos exterminados. O ser portador da chave que dava acesso ao gás para as malditas câmaras de gás.

Acordamos e relembramos a realidade do pós-guerra com os julgamentos dos nazis, mas que em tantos e tantos casos não foi feita a devida justiça perante tamanha atrocidade que foi feita naquele período. Exemplo disso é Victor Capesius, que embora tenha estado preso, não foi punido como devia ter sido por todas as mortes que provocou. Nem que seja para exemplo das gerações futuras para que fique perpetuado nessas sentenças este período vergonhoso da nossa história.

Um relato de um homem que passou a viver a fingir que não foi parte ativa da morte de inocentes. Uma fuga à consciência. Uma fuga que todos nós devemos evitar porque relatos assim têm de ser lidos para que nos lembremos do foi aquele campo de concentração e para que nunca mais nenhum suspiro de vida seja silenciado num campo da morte como este o foi.

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Tardes Malditas!

Naquela sexta-feira lembrei-me de ti. Odiei ainda mais aquela tarde maldita por não estares ali apenas para te ver. Estares a tão poucos passos de distância e a desorientação da mente não me deixou desviar ao teu encontro. Naquele momento a alma doía-me. Cegava-me a raiva. E apenas te queria ver. Porque os olhos do teu coração saberiam acalmar-me. Precisava de voltar a morrer nesse teu sorriso para me acordar do pesadelo.

Deitei-me na almofada da tristeza. E mais uma vez lembrei-me de ti. Voltei a odiar estes fins de tarde outonais que te levaram para outros caminhos. Porque se apenas posso olhar para ti, então que os dias me deixem apenas olhar para ti. Os minutos preferidos da vida são simplesmente esses, o de olhar para ti.

E depois daquela sexta-feira de tarde maldita precisava desse teu olhar-vida.

Dormi. A tua alma veio visitar-me. Senti-te a dar-me a mão. Tão suave. O toque que ficou. Demasiado real para ser um mero sonho. Senti o teu olhar em mim. Acordei. O silêncio da chuva. O cobertor. Apenas eu. Olhava e vi o teu olhar. Sentia o teu toque.

Acordava e adormecia nesse olhar. Nesse toque. Escrevo e ainda o sinto. A ti. O roçar de dedos.

Diz-me numa dessas tardes que não sejam tardes malditas que também te lembras de quando as nossas almas se encontram nos nossos sonhos.

Imagem : Internet

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Caminhos!

Uma aparente serenidade. Um caminho. Um rio cujas as emoções estão envoltas em raiva. Em tristeza. Em dor.
Há um passado que fica para trás. Um passado em que os nossos caminhos se cruzaram e que tanto me fizeram crescer. E hoje esse caminho desviou-vos de uma forma bruta e inesperada deste meu caminho. Com lágrimas.
Há um futuro à nossa frente, de passos e estradas diferentes, mas há um amor, um carinho imenso que nunca será passado. Uma parte de quem hoje sou, sou porque fui uma abençoada por vos ter a ensinar-me a crescer.
Porque no dia em que entraram na minha vida dela nunca mais sairão mesmo que os nossos dias não voltem a ser como ontem o eram.
Porque as nossas histórias serão sempre apenas nossas.
E voltaremos a ter mais histórias só nossas! Nestes nossos caminhos!

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Sombra-Luz!

Serás sempre a sombra que mais ilumina o caminho dos meus passos. És a minha sombra-luz pela qual o meu coração espreita. O amor que é sombra em nós. Uma luz, um raio de vida, um sopro de sol que me faz caminhar sem desistir de mim porque não vais estar ali ao meu lado para amparar o tropeção de amar-te a ti e à tua alma e apenas o nosso olhar poder conversar nas escuras tardes de outono.

Serás sempre aquela sombra-luz luminosa que pinta as mais belas palavras na tela que sou. Preciso de olhar para ti. Na escuridão da noite. Para saber que és tu que me escreves a alma.  

És sombra. És luz. És tu e apenas tu! 

Imagem : Internet

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#opinião# Heather Morris "O Tatuador de Auschwitz"

32407 e 34902 – não são números escritos ao acaso. São dois dos milhares de números tatuados nos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau. As nossas personagens. Reais. Não ficcionadas para um romance. Números que comprovam a existência de um Holocausto que muitas mentes teimam em negar.

“O Tatuador de Auschwitz” é uma das muitas histórias vividas e contadas na primeira pessoa que relatam a crueldade pela passaram nos campos de concentração. Heather Morris escreve-nos as memórias de Lale Sokolov que com ela partilhou após a morte da sua mulher.

Lale chega a Auschwitz-Birkenau em 1942 e após sobreviver à febre tifoide é incumbido da tarefa de tatuar os outros prisioneiros. As experiências que relata são de uma barbaridade total que nos repugnam ao ler e saber que aquilo aconteceu mesmo. Que não foi inventado. Momentos como um prisoneiro cair e ser morto imediatamente, experiências macabras de Mengele, entrar num crematório antes de milhares de judeus serem exterminados nas camaras de gás. Pessoas despojadas dos seus pertences, da sua roupa, da sua identidade. Pessoas que se tornam ossos com a pouca ração que lhes é concedida.

Por ser o tetovierer (tatuador) que lhe dava alguns pequenos privilégios como ter comida extra e ter mais alguma liberdade para andar no campo, consegue algumas joias de outros prisioneiros que troca por comida. Um esquema perigoso com trabalhadores de fora que trabalham neste campo de concentração. E distribui a comida pelos outros prisioneiros do bloco, pelos doentes. Um chocolate que serve para poder ver a sua amada, Gita. A comida era um suborno. O bem mais desejado por todos assim como a liberdade. É tão singular a descrição do êxtase ao comer um quadrado de chocolate como se fosse a melhor iguaria do mundo. E para aquelas pessoas era, porque já nem sabiam o que era a comida.

Gita é uma das milhares de raparigas em Auschwitz-Birkenau e tatuada por Lale e logo nesse primeiro contacto de olhos surge ali um sentimento. Que cresce quando a vida naquele campo diminui. Lale que faz de tudo para a proteger. Porque sempre disse que iriam sair dali com vida. Num sítio que cheirava a morte, ainda havia amor puro e verdadeiro.

Lale durante toda a sua vida se sentiu culpado por ter de tatuar e marcar os seus iguais. Mas em Auschwitz ou se era escolhido ou se era morto. E Lale optou por viver, embora a morte tenha estado na sua cama por várias vezes.

Não sei como apelidar esta leitura. Uma realidade perversa de mentes depravadas. Uma história real. Perturbadora. Um relato violento, atroz. De sobrevivência, Lale esteve em Auschwitz três longos anos. Mas que nos impele a ler cada página. A sofrer com as nossas personagens. E com todos os restantes prisioneiros cujo caminho se cruza com Lale e Gita. Palavras que nos apertam o coração e balançam o estômago.

Um livro de amor. De esperança.

Um livro para todos lermos e nos lembramos de que o Holocausto existiu para que nunca mais volte a acontecer e que as gerações futuras não tenham de ler histórias como estas.

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