Iniciei este mês de fevereiro com leituras de autoras adormecidas na minha lista. Virginia Woolf, as suas poucas palavras lidas em idos tempos de escola já estavam esquecidos em mim. Por isso, nada melhor que uma nova leitura para este ano. A decisão foi aleatória, resultou de um empréstimo. Não o livro mais fácil da autora, mas parti à aventura munida de vontade e curiosidade.
O primeiro grande impacte foi a escrita fluída e poética de Woolf que torna o correr das palavras mais harmonioso.
Podemos resumir este livro biográfico da personagem principal Orlando de um modo muito natural.
Orlando é um jovem, de 16 anos, aristocrata inglês do século XVI, na época de Isabel I, com quem acaba por privar. Sacha, uma jovem russa, era a sua paixão com contornos Shakespearianos, a grande influência desta fase.
Orlando, no entanto, tem uma peculiaridade, por vezes adormece a avança no tempo como se o dormir fosse o amadurecimento perante os diversos acontecimentos ingratos da sua vida.
No século XVIII é nomeado embaixador da Inglaterra em Constantinopla, junto da corte do Sultão, onde é um jovem de sucesso. Um dia adormece e acorda mulher. É acolhida por ciganos e regressa a Inglaterra. A viagem no tempo prossegue até Orlando chegar ao século XX com 36 anos, na época da 1ª Grande Guerra.
De uma forma simplista podemos afirmar que Orlando vive numa constante procura pelo amor, um amor sem tempo nem sexo (género). Ser homem, mulher, jovem ou velho, viver no século XVI ou XX, tudo isso são variáveis que não afectam a busca ininterrupta da felicidade pelo amor. Orlando é imortal como o seu amor por Sasha. Orlando, mesmo mulher, continua a amar Sacha.
Uma obra-prima da nossa literatura. Woolf concede um tempo infinito à personagem, iniciando o livro na era elisabetana para finalizá-lo depois da primeira guerra mundial. A obra termina após 350 anos de descrição, rompendo com o tempo dito real e substituindo-o pelo tempo da consciência, do sentimento, da memória e da vontade.
Orlando é também reflexo da paixão de Woolf pela literatura, o que considera uma terrível doença agravada pela escrita. Excertos tão suis generis representam esta visão e só por isso vale a pena ler este livro. Poetas e vida literária causam tanto sofrimento a Orlando quanto a paixão pela princesa russa que o abandona. E a única certeza é de que Orlando manterá para sempre o longo poema “O Carvalho”, fio condutor que atravessa o livro, porque em momentos escreve e apaga numa comparação à vida onde a escrita é interrupta e onde temos de apagar o mau para crescer.
Este romance é uma inspiração em Vita Sackville-West, também escritora, amiga e amante de Woolf durante vários anos, numa época em que na Inglaterra, a homossexualidade era criminalizada.
Uma leitura que todos devíamos ler, não só quem ama clássicos, quem escreve, mas todos nós que tal como Orlando procura o amor por si e pelos outros!
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