Adoro estes livros que me abraçam a alma. Que se colam a mim. Que não me deixam ir.
A minha segunda incursão pela escrita de Murakami foi isso mesmo. Um constante não conseguir desprender a história de mim.
“A Peregrinação do Rapaz Sem Cor” é um livro intimista que nos leva numa peregrinação dentro de nós mesmos, sobre quem somos. A nossa autodescoberta. Os nossos medos. As mágoas. As alegrias. A solidão. A amizade. Isto pela mão do personagem principal, Tsukuru Tazaki , um apaixonado por estações de comboio, com uma gigantesca ferida aberta em si.
Tsukuru sempre se achou o rapaz sem cor pelo seu apelido não ser uma referência a uma cor. Isso não o impediu de fazer parte de um grupo de cinco, três rapazes, e duas raparigas, Aka (vermelho), Ao (azul), Shiro (branco) e Kuro (preto), unidos e inseparáveis na adolescência. Daquelas amizades cimento. Mas que um dia, assim do nada, derretem e desfazem-se.
Após entrar na universidade, em Tóquio, deixando a cidade natal de Nagoia e os seus amigos para trás, e sem nada prever, repentinamente cortam relações com Tsukuru. Sem uma explicação. O que o leva ao desespero. A abeirar-se do abismo. A não se aproximar das pessoas. A não entregar-se. E assim passam dezasseis anos. Sem respostas ao que aconteceu com o seu grupo de amigos. O que é feito deles.
Até que, aos 36 anos, conhece Sara, uma brisa na sua vida, ela o instiga a saber realmente o que se passou. Para curar aquela ferida aberta dentro do coração. Porque como o autor diz, podemos por uma tampa, mas o que está por baixo nunca desaparecerá.
E assim, Tsukuru, parte ao encontro daquela história em suspenso há dezasseis anos. Uma peregrinação do Rapaz sem Cor à descoberta de si e de explicações. Caminhar com as suas sombras. As dúvidas que palpitam a alma. Respostas que precisam de ser ditas. Voltando à sua cidade natal e mesmo voando até à Finlândia, aos poucos o mistério desvanece-se com tantos e muitos esclarecimentos dados. Que aqui não direi, para que sintam curiosidade em ler. A amizade que o tempo levou e que não voltará. Páginas que me deixaram de coração triste.
Com “A Peregrinação do Rapaz Sem Cor”, um livro de nostalgia, impregnado nas suas folhas de simbolismo, o confronto entre o real e o imaginário, assumi-me como admiradora de Murakami. Que venham mais livros deste autor que só pelo que li de apenas dois livros, estou arrebatada pela sua escrita.
Deixo um excerto, que muito me marcou, deste maravilhoso livro que retrata como a escrita é melodiosa, poética e que nos faz navegar a alma de emoções. Um livro que me baloiçou os sentidos.
"Nesse instante, Tsukuru soube. No mais profundo do seu ser, compreendeu por fim. O que o coração das pessoas não é apenas a harmonia. Os corações humanos unem-se através dos desgostos sofridos. Ferida com ferida. Dor com dor. Fragilidade com fragilidade. Não existe silêncio sem um grito de dor, não existe perdão sem derramamento de sangue, não existe aceitação sem a inevitável passagem pelo sentimento de perda. É aqui que se encontram as raízes da verdadeira harmonia."
Fica a dúvida, será que haverá a continuação da história de Tsukuru, pois se uma situação se resolveu, o autor deixou em aberto o que acontecerá naquela noite de 4ªf! Que rumo tomará os carris da vida de Tsukuru?!
Aproveitem as férias e coloquem este livro no saco de praia!
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