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Noite. O sol dorme. Escrevo. Divago.
Estou aqui a pensar se hoje terei sido fraca por ter voltado lá? Aos meus fins de tarde. Terei fraquejado por te querer ver? Ou precisava de tremer para sentir o coração bater na apatia do dia que foi.
Ou terei sido forte por enfrentar de frente isto que sinto? Tornares-me mais forte no nosso silêncio. Porque preciso da minha força para lutar por dias felizes. Para ser capaz de finalmente te deixar ir de mim.
Ainda era manhã, o relógio no comboio marcava 8h43 e tanto desejei que o tempo acelarasse. Que fosse a viagem de volta. Para te ver. Porque voltaram os dias de desalento. Tenho aversão a estes dias. Viste este desânimo nos meus olhos? Nem os escondi de ti. Hoje queria chorar ali. Não seria louca. Somente sincera.
Aqueles dias em que desaceleraste o meu tempo ficaram guardados em mim. As memórias dos momentos. A tranquilidade na pele. A serenidade no meu sentir.
Hoje voltei a querer acelerar o tempo nos dias. Estes meus dias tristes. Vazios de paixão. E lá estás tu para conversares de alma para alma.
Porque por mais que tente enganar os olhos meus, és tu que me apertas o coração. Que me soltas as lágrimas. Que me vives na energia da alma. Não é aquele instinto da luxúria carnal, é algo tão mais transcendente que o desejo. Tão mais puro.
Por isso se pudesse amava-te. Para sempre. Mas não posso. Apenas posso continuar-te a escrever-te nestas minhas lágrimas que hoje me ofuscam os sentidos. És tu que me escreves.
Fraca ou forte não quero saber. Fui eu. Não fugi de mim. Não quero fingir sentir por outros o que sinto por ti.
Vou ser sincera comigo mesma como o pôr-do-sol é sinceramente belo no seu universo. E só assim poderei ser eu, contigo ou sem ti.
Imaginem o nosso pulmão a arder e a respiração a faltar-nos. O ar que é fumo e as cinzas que se espalham no nosso sangue. Parece um pesadelo. Olhamos e vemos que nada arde. Ufa, pensamos nós. Pura ilusão.
O pulmão da nossa terra-mãe arde há 17 dias. 17 dias?! Como é possível?!
Um holocausto ambiental silencioso que mata e dizima a vida de árvores e animais.
Porra, não são "apenas" eles que morrem. Um abanão para os mais despreocupados. Nós também estamos a morrer com tamanha destruição. A cada dia que passa abeiramos-nos do precipício. De onde nada se salvará.
Precisamos dos pulmões verdes para respirar. Ou estão a inventar alguma técnica de respirar lucro e dinheiro?!
A nossa terra-mãe não está à venda. Ela é de todos nós. É a nossa casa. É nas nossas janelas que está a entrar este cheiro horrifíco a queimado. Mas em vez de cuidarmos dela, não, vemos como isso nos pode ser rentável. As queimadas. A desflorestação. Os resorts de luxo. Os campos de golfe e o que mais houver que desenhe zeros nas contas bancárias.
Lembrem-se, o saldo da nossa terra-mãe está a esgotar-se. Já não há tempo para créditos.
É urgente tremer. Acordar e olhar este terrror e aniquila-lo. Juntos pelo bem-estar da nossa casa. A única casa que temos (é bom não esquecer este pequeno pormenor, apenas detalhes irrelevantes).
Sem pulmões não temos ar. E o pulmão está a arder.
Sem terra-mãe não há vida. E coração da terra-mãe começa a parar de bater.
E é tão cruel como isso. E agora, já sentem os vossos pulmões a arder?!
Imagem : Internet
Um verão vestido de um outono que ano menos ano será apenas recordação das memórias de infância. Um verão tantas vezes sinónimo de férias. De quebrar as rotinas diárias. Inventar rotinas de férias sem relógios ou horários. Sem lista de tarefas ou urgências. Sem e-mails ou telefones. Desacelerar o tempo. Ritmar o repouso.
Também para mim, estes são alguns dias de desligar de uma realidade mundana que tanto me tem desgastado as emoções nos últimos meses. Desacelerar o meu tempo. Parar para sentir a vida no meu pulso.
São dias de novas rotinas. As minhas rotinas de férias. Quando o tempo refreia porque não te vejo. Não te ver é sentir os dias abrandar nos minutos de um relógio que guardei na gaveta. Não correr por um olhar teu. Desaceleras-me o tempo nestas minhas férias. Fazes-me respirar fundo. Inspirar e expirar lentamente. Longe ou perto não me esqueço de ti um dia em que o sol nasce. Vivo os meus momentos. Viver cada instante. Sem rapidezes. Apenas a urgência de sentir esta tranquilidade que me deixas quando desaceleras o meu tempo. Deixas-me tempo para conversar comigo. Aquilo que me tens ensinado nas nossas sempre conversas silenciosas. Saber conversar-me no silêncio.
Desaceleras-me o tempo. Dás-me o meu tempo para olhar para o meu caminho. Meditar no presente. Sonhar o futuro. Estudar as estrelas. Escrever os desejos em jardins de sal. Olhar o mar na serenidade de estar ali sentada. Eu e o mar. Deixar fluir o meu bater do coração. Não pensar em nada. Somente apreciar a beleza da perfeição da natureza no pôr-do-sol.
Desaceleras-me o tempo. Fazes-me flutuar nos meus dias de rotinas de férias. Sem os nossos horários. Contigo sempre na minha alma. Para não sentir as saudades tuas.
No meio destas rotinas de férias. De idas e vindas. De partidas e largadas. De passeios e quilómetros. No meio destes meus passos de descanso o teu sorriso. Aquele teu sorriso-mel. O meu sorriso preferido de todos os outros sorrisos que sorriem a alma. A lembrar-me dos meus fins de tarde que tanto guardo em mim pela vida que devolvem.
Desaceleras-me o tempo nesse teu sorriso!
Desaceleras-me o tempo! E fazes-me viver!
Descobri um alpendre de emoções minhas. Que viviam dentro de mim e estavam adormecidas na casa abandonada que eu era. Abandonada de sonhos e esperança. Era uma casa, assim, sem vida. Sem sorrisos e risos. Despojada de emoções.
Primeiro abri uma janela. Quando te vi. Apenas abri uma fresta. Com medo do que pudesse entrar. E qual rajada de vento, escancaraste os caixilhos de uma madeira podre que a cercavam. Assim sem saber como trouxeste-me as tuas memórias que estavam trancadas na minha alma.
A luz do candeeiro do meu coração acendeu-se. Para iluminar o meu caminho. Desbravar as silvas. Essas ervas daninhas que cegaram anos do meu viver. Que os teus olhos mel-outono transformaram em flores.
Aos poucos a casa que sou voltou a cozinhar momentos temperados com sentidos que despertaram das masmorras onde estavam encarcerados. O teu sorriso encantado enfeitiçou-me de sentidos.
Comecei a fotografar instantes e a colecionar gratidão somente por existir. Guardo cada minuto teu. Cada gesto. Guardo as memórias da vida dentro de mim.
Quando voltei a olhar para dentro de mim tinha renascido. A minha criança interior voltou ao seu mundo encantado de fadas de onde a expulsei e não lhe dei espaço para ser a essência que a criança deve ser.
Revolvi as minhas entranhas. Limpei o meu lixo emocional. Nem o deitei na reciclagem. Deixei que o mar o levasse para longe. Para ser destruído e nunca mais voltar para me atormentar.
Descobri esse alpendre de emoções que estavam dentro de mim. De porta fechada. Que tu abriste. Trazias a chave dessa cela nessa tua alma. E que me entregaste tantas e tantas vezes depois daquela tarde de sol quando nos reencontramos.
Descobri neste alpendre emoções minhas em ti. Tornei-me mais forte e mais corajosa. Talvez nunca te sentes no sofá do meu colo e te conte este segredo. Que serás sempre aquele, o mais especial. Que me treme as lágrimas de emoções. Que me estremece o corpo. Que me vive um amor que um dia sei que algures será real.
Queria-te tanto dizer como o alpendre das tuas emoções me sustentou os meus dias nos últimos meses que passaram. Esse alpendre impediu-me de quebrar e desmoronar. De voltar a ser essa casa fantasma que era antes de ti. Por ti não apaguei as luzes. Mantive-as sempre acesas. Eras o meu alento do meu caminho. O que me fazia querer avistar chegar o fim de tarde. O picar o ponto. Para somente ver-te. Naquele segundo encontrava ânimo para o dia seguinte.
Agora nesta rotina de férias tive a certeza que eras tu na rotina do quotidiano que me fazia andar de cabeça erguida. Pronta a lutar. A não desistir. A ter um motivo para sair a correr comboio fora. Ver-te e ser capaz de escrever os meus sonhos. Os desejos.
Nesta rotina de férias penso em ti e não sei ainda se sou capaz de te deixar ir. De nos deixarmos ir. Ainda preciso que me sustentes os dias. Que a tua alma esteja ali para me ajudar a preencher aqueles dias vazios que só se escrevem nos fins de tarde.
Preciso que ainda sejas aquele meu alpendre de emoções. Onde me encosto para te ver passar. Saber que tenho de tornar os meus dias como estes fins de tarde. Que me façam sentir viva. Não posso perder tempo assim. Não é isso que me tens ensinado. A desperdiçar o tempo naquilo que não me faz feliz. Não é isso que este nosso alpendre de emoções nos conta.
Queria sentar-me neste alpendre de emoções à espera. À tua espera. Para te abraçar. Agradecer-te. Beijar-te na eternidade da gratidão.
Mas talvez nunca me chegues a esta porta que abriste para a vida e que por ti nunca fechará mesmo que nunca venhas.
Este alpendre de emoções nunca irá desaparecer.
Neste baloiço sinto esta tristeza tua que vive em mim baloiçar suavemente. Uma tristeza tão íntima que os olhos disfarçam. Que só eu vejo.
Sinto-te a largar-me nas emoções do viver. A deixares-me em movimento. Pronta a cair para a vida. Tropeçar e levantar-me. Sem ti.
Neste baloiço de lágrimas. De mágoas nossas. Que ficarão cá sempre dentro de quem somos. A dor que não se esquece mas que me torna mais forte nesta mulher que sou.
Podes deixar-me neste baloiço. De coração apertado. De coração melancólico. Mas de coração aberto. Pronto para amar. Pronto para me deixar voar alto no que vier a sentir. Sem medos. Porque nunca tive medo disto que sinto por ti mesmo sabendo que seria sempre um sentimento guardado nas sete chaves do mais profundo do meu ser.
Um baloiço de emoções antagónicas estas que se mexem em mim. Não querer deixar-te ir. Não conseguir imaginar os dias sem te ver.
Deixas-me de alma tranquila na esperança que o amor um dia poderá chegar-me. E só me irá chegar porque esta nossa dor abriu-me os olhos para uma vontade de viver cada instante de cada momento. Não voltar a perder sensações.
Um baloiço. O que sinto por ti nunca cairá. Nunca será arrastado na corrente da água onde piso os meus pés. Na água gelada como o meu coração não voltará a gelar. Água serena como a tranquilidade que foi e é amar-te no meu silêncio. Conversas silenciosas que me renasceram a voz.
Há um baloiço preso ao tronco da árvore que se verga na maravilhosa imensidão da natureza. As raízes nossas que continuarão a perfurar a terra castanha. Raízes que se entrelaçam no sempre do tempo que sempre seremos. As nossas raízes que nos voltarão a cruzar os passos.
E nesse dia poderemos estar os dois neste baloiço do nosso amor.
Até lá haverá sempre o baloiço das memórias que deixas a baloiçar em mim.
Correm, por entre mim, as árvores nas curvas desta estrada. Apressadas numa tranquilidade que contagia os passos dos pneus que são obrigados a abrandar nas curvas e curvinhas e apreciar cada canteiro de natureza à minha volta.
Os meus olhos fogem-me. Até ti. Quando me apertaste o coração naquela tarde. Mas não sinto ansiedade. Nem aqueles murros que pontapeiam o meu estômago.
Sinto apenas serenidade.
Porque desisti de forçar-me seja ao que for. Não agarro na borracha para te esquecer. Porque nunca nos vamos esquecer. Ambos sabemos que nos vamos sempre reencontrar qualquer que seja o tempo e lugar. Por isso deixo fluir este nosso reencontro de agora. Aprender o que ainda possas ter de me ensinar. Curares-me a esperança.
Deixo-me estar como estas árvores. Sossegadas. Quietas. Sem pressas para nos deixarmos ir um do outro. Rumo a um próximo reencontro onde talvez possamos ser muito mais daquilo que hoje somos. Quase desconhecidos com almas que se entranharam uma na outra. Eternamente dois.
Danço na melodia da brisa que faz cócegas aos ramos e que se riem. Sorrio. Gosto de ter descoberto como sorrir. Apertaste-me o coração mas sorrio. Porque há um tronco cheio de raízes escondidas só nossas. Que só nós vemos. Que só sentimos. O segredo que ocultamos um do outro.
Olho este verde que me aconchega os sentidos. Lembro-te de ti. Sinto apenas tranquilidade. A tranquilidade da gratidão desses teus olhos a apertarem-me o coração. A fazerem-me sentir viva. Pronta, de mangas arregaçadas, para viver. Continuar a crescer como estas árvores que renascem depois dos incêndios.
A estrada refreia. Os pensamentos abrandam. Ainda penso em ti.
De coração aquieto. A sentir aquela serenidade que me devolveste e que tinha perdido em mim.
Sinto-me parte desta natureza. A encontrar a minha paz!