Descobri, apenas este ano, a escrita maravilhosa de Murakami e desde esse momento que tento por em dia os a leitura dos seus livros. Desta vez o livro escolhido foi “Homens sem Mulheres”, título que o autor pediu emprestado a Ernest Hemingway. Uma compilação de contos já publicados anteriormente, de forma dispersa, por Murakami. Sete contos. Sete homens desencantados. Deixados por mulheres e que tentam encontrar meios para recomeçar após o final dos relacionamentos. Sete histórias de solidão, luto interno, mágoa, isolamento, inadequação e a insegurança. As memórias, os sonhos, tantos deles frustrados, e cenários fantásticos fazem-nos companhia nestes contos.
Um livro também de mulheres. As desejadas. As sonhadas. As traídas e traidoras. As ouvidas e silenciadas. As incompreendidas e desvalorizadas. As fugitivas. As amadas e para sempre perdidas para estes homens.
Histórias com vida. Com as suas normas, em que o seu desenrolar é tantas vezes inesperado como de absurdo. De finais súbitos e imprevistos. Que nos pedem desfechos. Que nos deixam a pensar.
Claro que temos contos que nos marcam mais intensamente do que outros.
Em “Um Órgão Independente” vemos o definhar de um homem viril que se apaixona e se ilude. A fragilidade do homem.
Em “Kino” o abandono da mulher, a fuga de um homem à procura do eu que se perdeu. Personagens estranhas. O acreditar.
Os contos são para ser lidos. Sentidos. Experienciadas as suas emoções, por isso nada mais vou dizer sobre as suas histórias.
A genialidade de Murakami nestes contos está nas supostas informações que não nos transmite e deixa-nos o recado que foi propositado para que nós leitores não exigirmos um final por trás daquilo que nos poderia estar a esconder. E Murakami faz isso tão bem.
Uma escrita de sentido único, de caneta apontada às nossas emoções. Um livro que faz-nos sentir. Sentirmos-mos.
Um livro para lermos e nos refletirmos nos reflexos destas personagens e nas mensagens que nos deixam nas suas histórias.
“Um belo dia, quando menos esperar, o leitor vai ser um dos homens sem mulheres. Esse dia chegará de repente, sem apelo nem agravo, sem premonições nem pressentimentos, sem um toque na porta nem uma tossidela de aviso. Ao virar a esquina, vai descobrir que já está ali, mas não poderá fazer marcha atrás. Mal dobrar a esquina, aquele passa a ser o seu mundo. Nesse mundo, encontrar-se-á no meio dos ‘homens sem mulheres’. Num plural infinitamente gélido.”
Uma excelente leitura de manta e chá!