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O sopro mágico das palavras

O sopro mágico das palavras

Ferida....

Tantas são as vezes que penso. Que nos penso. Que desejo que este reencontro nosso nos fosse diferente do que é nos dias que passam. Mas não o é. Talvez nunca seja aquilo que podia sonhar que fosse. Um amanhã pintado de cinzento. Sem passos da tua luz.
Não pergunto os porquês. Limito-me a sentir. E dentro de mim há uma voz muda que grita e que só tu consegues ouvir. Uma voz ferida pelo universo.
Há uma ferida que me carrega quem sou. Tão minha. Uma ferida que o nosso reencontro atiçou em mim.
Um dia achei que o tanto que me tens feito caminhar em mim seria para curar essa ferida. Aprendi que não. Esta minha ferida jamais poderá ser curada. Por ti ou por quem quer que seja. Faz parte disto que sou.
Vieste para me ajudar a aprender a viver com esta ferida. Trazê-la a passear comigo. De mãos dadas. Uma ferida que às vezes sangra tanto. Que reabre no coração dos teus olhos.
Às vezes quando te olho, a ferida dói tanto. Sem conseguir afuguentar essa dor. Sufoca-me a respiração. Entorpece-me os sentidos. Fraquejo na minha força de a suportar.
Às vezes quando olho para ti esta minha ferida chora. E eu choro com ela.

Imagem : Internet

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#opinião# Haruki Murakami "A Rapariga que inventou um sonho"

Assumidamente em fase Murakami e por coincidência com duas leituras de rajada dos seus muitos contos já escritos e publicados. “A Rapariga que inventou um sonho” não foge à regra e são 24 contos de Murakami ali todos juntos num único livro. Histórias que nos inspiram e nos provocam tão diferentes emoções. O medo, o terror, a ansiedade, o amor, a paixão, a solidão, a repulsa e apatia preenchem as páginas deste livro.  Assim como a morte e a vida.

Não são contos iguais, tão pouco semelhantes dentro do mesmo género. Existe o realismo e a fantasia que se misturam tantas e tantas vezes.

Temos corvos animados, macacos criminosos, um homem de gelo. Temos sonhos e coisas que sempre sonhámos ter. Temos reuniões em Itália, um exílio romântico na Grécia, umas férias no Havai. Temos personagens que se confrontam com perdas dolorosas, outras que se deparam com distâncias inultrapassáveis entre os que querem estar o mais próximo possível.

Não vou resumir as histórias dos vários contos porque a aventura é essa mesma. Ir à descoberta. Saltar de cabeça e sem paraquedas para estas páginas.

Contos que nos atraem e outros que nos entristecem. Condesso que um dos contos o saltei pela tamanha tristeza que transmitia. Talvez porque grande parte dos contos são introspeções das suas personagens que podem contagiar o leitor.

Contos que são momentos. Pensamentos surreais. O surrealismo no mundano. A melancolia. O Homem.

Contos que são uma viagem ao estilo tão característico de Murakami. Para ler aqui e ali ou todos num sopro. O leitor decide.

Ideal para qualquer estação do ano. Para qualquer ocasião.

Nos próximos tempos, recusarei contos de Murakami, pois já tive a minha dose no pós-férias de verão. Mas anseio por mais romances que são até ao momento os meus preferidos.

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Ontem não te escrevi

Ontem não te escrevi. Estava anestesiada nesses olhos teus. Tão mel-outono. Os meus eternos preferidos. Nessa profundidade abismal que me és ao coração. O meu buraco negro onde me abeirei sem te desviar de mim. Quis que nos olhassemos demoradamente sem medos. Só o nosso silêncio. Sem ouvir as vozes que nos rodeavam.
Ontem não te escrevi. Tive medo de perder o teu olhar nas minhas palavras. Quis escrever-te o olhar em mim. Mas os joelhos não se aquietavam. As mãos desmaiaram. A alma adormeceu agarrada à memória que ficou desse teu olhar de ontem. Podes voltar a olhar sempre assim? Como ontem. Intenso e nessa profundidade de tudo o que te guardas em ti. E é tanto que guardas até de ti mesmo. Vê-se esse peso no teu rosto. Nas rugas que me falam de ti.
Queria dizer-te que não dormi porque tinha medo de me esquecer daqueles nossos olhos. Dormi, confesso! Mas dormi abraçada aquela fração de segundo que sorriste. Numa tranquilidade quieta de quem se confessou a si própria e vai sentir o que te tiver de sentir.
Ontem não te escrevi mas os meus olhos escreveram-te no reflexo de sentido único dos nossos olhares. Leste-me a alma. A transparência que me vês. Se pudesse amar os teus olhos, amava-os tanto.
Mesmo que não te escreva em palavras não há dia em que a minha alma não te escreva em mim.

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"Estás bem?!"

"Estás bem?" quis perguntar-te. Não consegui. Escrevi-te. Uma pergunta sem resposta. Quis apenas que soubesses. Leste-me as palavras.
Nos teus olhos de domingo bailava uma espécie de tristeza. Que rasgou a minha alma. Trouxe esses olhos teus comigo. Adoptei essa tristeza tua. E senti a tristeza minha dentro de mim a querer nadar até à superfície. Nadou e ficou no meu silêncio.
Não sei se foi uma ilusão de poeta. Ou se no silêncio me sussuraste, e eu ouvi-te. Ou se não te senti bem sem saber como senti isso. Se te li triste.
Voltei a ver os teus olhos na semana que nos corre os dias. A fragilidade das tuas rugas que parecem quebrar. Que te quebram. Voltei a sentir-te de lágrimas guardadas. Escondidas de ti mesmo.
Lembrei-me dos astros de quem és. De como te guardas para ti. De como os nossos passos se cruzaram e os nossos corações se reconheceram sem se falarem. De como do nada viajaste até às minhas profundezas. Como te deixei entrar em mim.
"Estás bem?" era só isso que te queria perguntar quando te olhei.

Imagem : Internet

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Que dores tão boas no corpo!

Dores. O corpo triturado. Dormir sem me mexer. Assim me deitei. Assim acordei.
Dores daquelas dores boas. Irónico! Existem dores boas? Como é possível ter saudades de sentir o corpo assim, dorido? Respostas tão simples. Feitas de sim. Feitas de mim e por mim.
As minhas aulas voltaram. E eu estou a tentar voltar com elas. A resistência que se perdeu. Os movimentos esquecidos. Recomeçar.
Transpirei. Suei. Os joelhos tremiam. Mas não desisti. A cada minuto superar-me.
Se as minhas colegas fazem melhor ou não, são elas. Eu sou eu. Com as minhas limitações. Faço o que o meu corpo deixa. Aos poucos levo-o ao limite. E nesses intervalos supero-me. E é isso que interessa. A competição comigo mesma. O não desistir. O contínuo tentar.
O corpo, hoje, dói. E não é pouco. Mas a alma, essa minha alma dança de alegria. Transpirei e deixei nessa transpiração o peso que me pesa os ombros. O corpo dói mas a alma sente-se leve como aquele vento que nos faz cócegas matinais.
Sentia saudades destas dores. Sentia saudades deste transpirar o corpo.
Sentia saudades disto que me faz feliz.
 
Imagem : Internet

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#opinião# Haruki Murakami "Homens sem Mulheres"

Descobri, apenas este ano, a escrita maravilhosa de Murakami e desde esse momento que tento por em dia os a leitura dos seus livros. Desta vez o livro escolhido foi “Homens sem Mulheres”, título que o autor pediu emprestado a Ernest Hemingway. Uma compilação de contos já publicados anteriormente, de forma dispersa, por Murakami. Sete contos. Sete homens desencantados. Deixados por mulheres e que tentam encontrar meios para recomeçar após o final dos relacionamentos. Sete histórias de solidão, luto interno, mágoa, isolamento, inadequação e a insegurança. As memórias, os sonhos, tantos deles frustrados, e cenários fantásticos fazem-nos companhia nestes contos.

Um livro também de mulheres. As desejadas. As sonhadas. As traídas e traidoras. As ouvidas e silenciadas. As incompreendidas e desvalorizadas. As fugitivas. As amadas e para sempre perdidas para estes homens.

Histórias com vida. Com as suas normas, em que o seu desenrolar é tantas vezes inesperado como de absurdo. De finais súbitos e imprevistos. Que nos pedem desfechos. Que nos deixam a pensar.

Claro que temos contos que nos marcam mais intensamente do que outros.

Em “Um Órgão Independente” vemos o definhar de um homem viril que se apaixona e se ilude. A fragilidade do homem.

Em “Kino” o abandono da mulher, a fuga de um homem à procura do eu que se perdeu. Personagens estranhas. O acreditar.

Os contos são para ser lidos. Sentidos. Experienciadas as suas emoções,  por isso nada mais vou dizer sobre as suas histórias.  

A genialidade de Murakami nestes contos está nas supostas informações que não nos transmite e deixa-nos o recado que foi propositado para que nós leitores não exigirmos um final por trás daquilo que nos poderia estar a esconder. E Murakami faz isso tão bem.

Uma escrita de sentido único, de caneta apontada às nossas emoções. Um livro que faz-nos sentir. Sentirmos-mos.

Um livro para lermos e nos refletirmos nos reflexos destas personagens e nas mensagens que nos deixam nas suas histórias.

“Um belo dia, quando menos esperar, o leitor vai ser um dos homens sem mulheres. Esse dia chegará de repente, sem apelo nem agravo, sem premonições nem pressentimentos, sem um toque na porta nem uma tossidela de aviso. Ao virar a esquina, vai descobrir que já está ali, mas não poderá fazer marcha atrás. Mal dobrar a esquina, aquele passa a ser o seu mundo. Nesse mundo, encontrar-se-á no meio dos ‘homens sem mulheres’. Num plural infinitamente gélido.”

Uma excelente leitura de manta e chá!

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#opinião# Ken Follett "Notre Dame"

Quando, no final de agosto, soube que ia ser publicado um novo livro de Ken Follett entrei em quase histerismo. Um livro do mestre! Logo no mês do meu aniversário! Prenda assegurada para mim mesma, pensei eu! A verdade é que, não o pude comprar em setembro, mas chegado outubro, lá fui eu toda pimpona adquirir o livro. De repente fico de boca aberta a matutar “Isto é mesmo um livro do Follett?! Só com estas páginas!”. Pestanejei os olhos não fosse estar a dormir. Mas não estava sonolenta.

Ora quem está habituada a trazer os seus livros de 1000 páginas nos transportes públicos até fica atordoada com a reduzida dimensão deste livro. Não que o mestre tivesse em poupança de palavras (consta que no próximo outono vem aí um livro à Ken Follett).  

Mas devido ao trágico incêndio na história de Notre-Dame em abril deste ano e a forte ligação de Ken Follett a catedrais (é sempre bom recordar que uma das suas grandes obras-primas “Os Pilares da Terra” retratam a construção de uma catedral), foi-lhe pedido que escrevesse um livro sobre o seu amor por Notre-Dame. A resposta foi claramente afirmativa e por isso temos hoje este livro. Um livro que retrata a origem da construção de Notre-Dame e alguns dos momentos chave da sua história onde vamos, por exemplo, encontrar personagens históricas como Victor Hugo.

Não é um romance. São apontamentos históricos e um livro de colecionador para quem tanto admira Ken Follett.

Um livro para acompanhar um café.

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Era noite em Tomar!

Era noite em Tomar. De um outono que convidou a chuva para uma visita. Uma cidade refletida nas águas quase secas do Rio Nabão. As luzes nos contornos do Convento de Cristo que iluminam os caminhos. Que desbravam sonhos. Que nos acordam de apatias.
Era noite em Tomar. Uma cidade que me aprisionava os sentidos. Que me encurralava a alegria. Que me sufocava a vida. O meu corpo físico ali. Porque tinha de estar ali. Um corpo ausente de mente. Uma ausência de alma que voou dali até às saudades de ti.
Não que te fosse ver nesse meu dia de regresso tardio ao descanso. Mas largei-me dali para fora. Pensar nos teus olhos. Ir às memórias tuas e ser capaz de sorrir. Porque a tristeza de uma prisão dói. E doía tanto. Pensar em ti suavizou as correntes que me prendiam os pés. Fizeste-me ter tantas certezas. Enclausuras reveladoras de mim. Talvez a prisão me liberte das amarras que me esfaqueiam os dias.
Era noite em Tomar. Não importa a distância dos quilómetros porque aquelas luzes eram as luzes que iluminam o teu rosto quando o sol se deita e os teus olhos se despem. Ver-te nas memórias minhas mantém-me viva ali. Porque tinha de sair dali de coração ainda a bater esperança.
Era noite em Tomar. Dormi-te nos meus sonhos. E tranquilizaste-me o sentir.

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Obececaste-me....

Obececaste-me olhar o presente. Olhar o aqui e agora. O instante dos teus olhos. Olhar-te. Recordar as memórias que nos trazem a alma mas decorar cada traço teu do teu rosto. Os tiques. Neste agora de tempo.
Obececaste-me nesse sorriso teu. Quando crescer gostava de aprender a sorrir como tu. A perfeição do teu sorrir que és para mim.
Obececaste-me em sentir. Simplesmente sentir. Sentir o que sinto. Gostar de ti sem saber porquê. Não pensar que poderá não haverá um amanhã nosso. Esse amanhã é desconhecido e tropeçamos tanto nesse universo que nada sabemos do que virá. Por isso se te sinto no coração vou deixar sentir-te em mim. Mesmo que sejas o meu segredo. E tu sabes que és o segredo meu. Escrevo-te para me continuares a ler depois dos nossos olhos seguirem diferentes estradas. Diferentes casas.
Obececaste-me na tranquilidade. Em sentar-me no meu degrau onde os meus pés se apoiam. O meu caminho. A serenidade de mostrar-me na essência que tenho em mim. Ser transparente. Sem máscaras. Simplesmente ser-me!
Obececaste-me em saber quem sou eu. Agora. Já!
Obececaste-me em não desistir de ser feliz. Se um sorriso teu me deixa feliz, vivo cada segundo com aquela intensidade que me treme. Se me procuras os olhos sei que algo nos mexe. E vivo essa sensação de amor. Feliz. Naquele ponteiro do relógio que pará e nos faz parar para sentir e depois continuar no seu tic tac. E nós nos irmos embora.
Obececaste-me em ti e nesses fins de tarde que me salvam os dias.
E como espero pelo aqui e agora só para te ver.

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O castanheiro da minha avó!

A quinta da minha avó tinha um castanheiro que nos abrigava.
A minha avó era o castanheiro da família que nos segurava os sonhos. Era a nossa força.
Ontem andei por essa natureza. Longe da quinta da minha avó. Apanhei estas castanhas do chão, nesses ouriços perdidos por baixo desses castanheiros espalhados por aí.
Senti-me protegida por aqueles troncos de castanheiros. Que me recordaram os tempos da minha avó. A sua força.
Hoje provo as primeiras castanhas deste outono. São tão mais especiais. Foram apanhadas por mim enquanto a minha criança interior voltava ao castanheiro da quinta da minha avó.
Estas castanhas têm o sabor de momentos felizes. Como era a quinta da minha avó e o seu castanheiro.

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