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O sopro mágico das palavras

O sopro mágico das palavras

Numa tarde de isolamento....

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Era uma tarde. Uma das muitas tardes desse isolamento que já nos dura há umas quantas semanas. Mais uma tarde normal entre os afazeres desse teletrabalho que me alimenta o cansaço de infelicidade. Tinha sonhado novamente contigo nessa noite. Nesses locais agora tão distantes de mim. O dia estava a doer-me nas saudades.
Subitamente o ar começou a fugir-me pela fresta da janela. Os pulmões estavam ofegantes a desesperar por um respirar na rua. As paredes do quarto apertavam-me o corpo. Os olhos estavam desfocados. Tudo era preto e branco. Fechei o computador. Levantei-me. Saí num impulso. Tinha de sair. Senão enlouquecia. Ver o azul do céu sem filtros. Olhar as árvores sem vidros a não ser com as lentes dos meus óculos. O sol quente de primavera que me aquecia demasiado o casaco. Em casa não se sente o vento soprar já quente. Dois minutos depois de pisar o passeio destas ruas minhas, senti o meu estômago a ser fortemente pontapeado enquanto os meus olhos te viram assim num relance de fuga rápida. O ar voltou-me ao corpo. As minhas emoções fizeram sentido no meu corpo. Continuei a caminhar. Deixei-me ir. Para ter a certeza de que eras tu. Ou apenas ver-te depois de demasiados dias que o calendário contou da tua ausência. O confinamento ainda não me apagou as memórias de ti. Não fiz perguntas ao universo. Limitei-me a ver-te. A sentir a tua alma por entre todas estas nossas restrições do agora. Continuas bonito nesse teu rosto agora mais sério de tempos difíceis que nos chegam. Os teus olhos sempre tão escondidos de ti. Faltou-me o teu sorriso. Não sei quando te verei novamente. Cada dia é uma incógnita. São dias de casa. Da próxima vez que o universo me empurrar para a rua, podes sorrir? Sabes aquele sorriso tão teu, não o percas mesmo que os astros no céu não te estejam a ser simpáticos.
Sorri, não por mim, mas por ti! Porque o teu sorriso faz parte de ti! Mantém-no vivo em ti!
Por isso, da próxima vez que te vir, desenha-me um sorriso nesse teu rosto. Pode ser? Fico à espera!

Imagem : Internet

25 abril

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Uma imagem simbólica neste 25 abril que em 46 anos foi comemorado de forma contida. Mesmo em período de isolamento e quarentena a nossa liberdade não está fechada. Nem perdida de nós.
Mesmo em casa continuamos a ser livres. Nada nem ninguém nos roubou essa liberdade conquistada por heróis.
Não pudemos ir festejar com cravos nas ruas, mas ser livre para escrever é um comemorar constante da minha e nossa liberdade.
Liberdade, hoje e sempre.

Voltaste

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Afinal o meu sonho tido há uns dias não foi loucura de um isolamento que já nos veste demasiado o corpo. Vieste dizer-me que ias voltar. E voltaste com o sol-esperança no horizonte. Mas eu não posso voltar a essas ruas por onde andas. Ainda não. Só falta um pouco. Que tanto será esse pouco que me falta. Que espera desesperante será essa nos meus dias. Já a sinto corroer-me em mim. A desfazer-me nesta folha de papel.
Agora é que este isolamento me vai doer. Esta tranquilidade que sentia evaporou-se no teu voltar. Sinto os vidros da janela a estilhaçarem-se no meu coração que sangra em saudades tuas. A chave na porta é chumbo e impede-a de se abrir. Para eu fugir. Não sei para onde. O universo iria indicar-me o teu caminho como tantas outras vezes já o fez. O ar já me começar a sufocar no meu respirar porque voltaste. O medo por ti cresce-me. Porque te quero bem e seguro. Protegido desse maldito vírus. Que inquietude tempestuosa que sinto por ti.
Nestes dias que chegam não posso apressar-me e fechar o computador de tarefas que em nada me fazem felizes para os teus olhos mel-outono me serem força. Não posso correr. Tenho de ficar em frente ao computador nas minhas outras criatividades que me são paixão. Fecho os olhos e vejo-te e acalmo-me por uns segundos até o coração se me apertar numa extrema violência de quem precisa desse vício que me és.
Nesse nosso eterno silêncio que só nós conhecemos, disseste-me que voltaste. Tal como nesse sonho que não esqueci. Arrepiaste-me os sentidos. Estremeceste-me as emoções. Vieste gritar-me para me ouvir sempre. Para não menosprezar os sonhos. Porque as respostas estão dentro de nós. É só aprender a escutar a nossa alma. Tens-me ensinado tanto nisso de ouvir-me. Que alerta tão grande foi este que me deste.
Voltaste para uma nova normalidade que se instala na nossa sociedade. As máscaras que te vão encobrir o sorriso. O teu e o meu. O sol que te ofusca os olhos. O teu rosto quase escondido. Camuflado para uma guerra silenciosa que nos transforma. Mas a alma que é pele do teu corpo jamais poderá ser ocultada. Afinal as nossas almas encontram-se nos nossos sonhos à nossa revelia. Reconheceram-se antes dos nossos rostos se encontrarem. Há uma eternidade de conhecimento recíproco entre nós que não são umas meras máscaras que vão conseguir apagar.
Voltaste. Também queria tanto voltar, só para te ver, apenas isso e nada mais. O resto pode esperar.

 

Imagem : Internet

#opinião Luís Sepúlveda "Diário de um Killer Sentimental"

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Um autor há demasiado tempo na minha lista de palavras a descobrir. Nunca me cruzei com ele nos caminhos da escola. Fui deixando o tempo passar pois há tanta leitura por aí. Mas fui sempre ouvindo as maravilhas da sua escrita. Depois da sua morte, tanto partilharam comigo a beleza das suas palavras que fui à procura de livros dele nas minhas estantes. Tive urgência de conhecer o seu legado. Descobri logo este livro.
Aproveitei o pequeno-almoço e voltei às minhas leituras matinais. Uma leitura de um sopro só pois a leveza do peso do livro assim permitiu.
De uma forma resumida, este “Diário de um Killer Sentimental” é o relato na primeira pessoa de um assassínio profissional, frio, implacável e impiedoso, que nunca falha ao premir o gatilho, mas que ao apaixonar-se, todo ele irá mudar. Passa a ser um sentimentalista. Sente curiosidade pela história da sua próxima vítima e torna-se desleixado. Ai o que o amor faz, torna o seu coração mole. Os erros e descuidos vão-se sucedendo ao longo da história, chegando mesmo ao ponto de perder brilhantes oportunidades de matar a sua vítima, que em momentos até o ajuda! Como o mundo é curioso!
Um bom começo para continuar a descobrir a escrita de Sepúlveda. Neste livro ficou o desejo de mais páginas de uma escrita precisa e tão adequada às personagens que constrói.
Uma excelente leitura para uma tarde de isolamento.
 

E os palcos ficaram mais pobres

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O mundo da cultura vai ficando mais pobre. Ontem as palavras que morreram. Hoje um palco cujo pano se fechou e não voltará a subir.
Triste notícia esta num dia que foi de sol-esperança. O alento de dias melhores que se dissipa na tristeza.
Um homem bonito que viajou para outros palcos num dia com nuvens algodão-doce. Um céu luminoso para receber uma estrela brilhante. Que partiu cedo demais. 46 anos. Arrepia-se a nossa pele. Que crueldade. Tanta vida que lhe espreitava. Tantos palcos por pisar. Tantas personagens para vestir em si. Um homem discreto como são as verdadeiros artistas. Não precisam de show off para mostrar o seu talento. E assim será recordado. O ator. O homem. O marido e pai.
Hoje, os palcos choram. Mas o Filipe deixou-nos uma última mensagem que podia ser dos seus muitos papéis : viver o hoje porque o amanhã é incerto. Cada vez mais estas palavras nos fazem tanto sentido. Vivamos.
Descansa Filipe nesse teu novo palco.

Feliz Páscoa!

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Hoje é domingo de Páscoa. Uma Páscoa diferente. Sem abraços ou encontros. Apenas o encontro connosco mesmos. E que encontro tão bonito é esse com quem somos.
Por isso, acordei cedo no sol que amanhece o verde do meu parque. Vesti roupa primaveril para que a alma possa ser sempre luz. O branco da paz que precisamos tanto sentir em nós. O meu eterno cor de rosa no símbolo do amor que temos de ter por nós. Nunca o universo nos pediu tanto isso. Amor.
Sai para a compra de pão fresco neste domingo especial. Mimos que tanto precisamos. Saborear a gratidão das pequenas coisas.
Não fui longe. Apenas ao meu parque que quase vejo da minha janela. Fui vê-lo com os meus olhos de domingo de Páscoa. Fui respirar serenamente para depois regressar a casa e por lá ficar.
Fui sentir a tranquilidade de sorrisos que não me esquecem. Fui ver a água que corre nas saudades que me atravessam os rios das minhas veias.
Fui andar nos meus momentos nem que sejam apenas 10 minutos. Que me restabelecem a força de continuar sempre a caminhar à procura dos sonhos meus.
Hoje é domingo de uma Páscoa diferente. Não tem de ser uma Páscoa triste. Apenas um momento de profunda reflexão que nos é pedido.
Que possamos sentir a essência da Páscoa no nosso coração e assim tudo estará bem. Porque acreditamos.
Uma Páscoa feliz no vosso coração e nunca deixemos de acreditar na vida
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A bola de carne da minha avó...

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Não é a bola de carne que a minha avó fazia. Não é feita com farinhas naturais nem tem carne de fumeiro. Não foi cozida em forno de lenha nem será comida ao ar livre de uma quinta. Não foi amassada pelos braços da minha avó. Nem sequer sei se é a receita dela.
É a bola de carne que fiz para uma Páscoa diferente. É uma bola da carne feita de memórias no seu aroma. Dizem que precisamos de recordar momentos felizes de pessoas felizes. Nesta bola de carne fui buscar os momentos da minha avó. Porque é assim que me recordo dela. De aromas e sabores felizes. 

Sonhos de chuva

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Manhã. A chuva na janela. Cai sem parar. A lembrar dias de inverno. Como a alma faz, neste momento, uma travessia no meio de uma tempestade que não sabemos quando abrandará. Quando poderemos voltar, o que quer que isso signifique.
As gotas da chuva. As lágrimas. Pois sonhei-te no meu sono. Lembrar-me de ti e a chuva são sinónimo de uma lágrima que o coração verte. Mesmo que tenha siso um sonho, demasiado real como sempre. Como se andássemos de noite a vaguear pelos nossos locais. Sem aquela multidão de pessoas que agora fugiu desses locais.
Sonhei que tinhas voltado. Olhei para o relógio e eram as minhas horas de te ver. Era verão de noites tardias. De céu claro. Mas não voltaste. Nem eu voltei lá. Aqueles lugares serão sempre memórias tuas. Agora estamos longe dessas nossas estradas. Dói pensar se alguma vez voltaremos lá como antes. A dúvida da incerteza que sempre me perseguiu e se tornou o meu pesadelo deste agora. A minha ferida precisa de ti. Ainda não aprendeu tudo para ser forte como tem de ser. Podes voltar?!
Eras tão tu no sonho. Uma impossibilidade de me confundir com outro alguém. Ninguém é igual a ti. Porque ninguém é igual a ninguém. És único. A nitidez da tua alma. A intensidade do teu rosto. Mas era apenas mais um sonho teu em tão poucos dias. A dor que duplica.
Tantos dias que fingi ignorar-te nos meus pensamentos. Tantos dias que não te escrevi. Estranhaste a minha ausência de palavras e vieste abanar-me durante a noite para não te perder dentro de mim nesta confusão de tempo que vivemos? Vieste pedir-me, não sei por que motivo, que não me esqueça de ti? Sabes, vais ser das poucas pessoas que vou levar para sempre em mim. Marcaste-me profundamente. Fizeste-me crescer. Obrigaste-me a amar-me a mim mesma. Por isso, não tenhas medo, mesmo no meio deste isolamento forçado, vives no meu coração. Só quero mesmo que estejas bem e que depois da tormenta passar continues a ser essa pessoa bonita que és e que os teus olhos mel-outono nunca percam essa cor de amor que têm. Afasta qualquer sombra de escuridão de ti. E se precisares podes sempre vir falar comigo nos sonhos. Estarei sempre lá para ti.
Manhã. A chuva na janela. Cai sem parar. Sonhei contigo e abri ainda mais o meu coração à ferida da saudade que tenho de ti.
Manhã. A chuva na janela. Cai sem parar. Às vezes as saudades também choram. Mas não chores sozinho. Choramos os dois mais logo nos nossos sonhos.

Imagem : Internet

Estou triste. Não tem mal. É mesmo assim!

 

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Hoje acordei com uma lágrima a correr suavemente o meu rosto. Uma lágrima por ti. Por te ter sonhado na noite que passou. Não te senti bem. Não sei se é o medo de não saber se estás bem. Ou se apenas estás de coração cansado como eu. Por mais resistentes que possamos ser, às vezes quebramos. Choramos. Mas não tem mal. É mesmo assim.
Sonhei esse teu rosto tão perto do meu. O teu respirar. A tua energia encostada a mim. Lembrei-me desses tempos idos em que os meus joelhos tremiam nos teus olhos. Agora a incerteza se alguma vez te voltarei a ver. Se vou voltar a tremer nessa tranquilidade que era olhar para ti. Se vou ansiar pelos fins de tarde. Para por entre atalhos o meu coração se sentar perdidamente em êxtase a olhar-te. Esses instantes ensinaram-me tanto de quem eu sou. Fizeste-me crescer tanto.
Não sei que conversa é esta que o universo está a ter comigo. Se é tempo de te deixar ir. Ou se é apenas um teste de resiliência a isto que senti e que agora nem sei o que é. Tantas vezes que achei que era tempo de irmos um do outro. E se calhar é agora. Ou talvez não. Não sei. O universo não me diz. Mas se é tempo de as nossas almas se largarem porque me vieste visitar no sonho meu? Sim, as nossas almas têm uma ligação que os nossos corpos nunca o terão. Elas falam-se no nosso mais profundo silêncio. Para as nossas almas não há distância. Vieste dizer-me que ainda te lembras de mim. Que não me esqueceste? Onde quer que estejamos as nossas memórias não se perderam. Ou ouviste toda a história que tens em ti e te lembraste do que já fomos? Naquela tarde em que te reencontrei perdoei-me e voltei a dormir em paz. De mim só terás amor. Nunca nada mais.
Às vezes disfarço os dias com outros pensamentos. Mas quando me bates à porta do coração, recordo-te. Todos os momentos que guardei no livro com o teu nome. Nesse momento choro. De saudades. De medo. Os meus sentidos doem-me em casa. Asfixio. Relembras-me da minha ferida como sempre o fizeste. Vens fazê-lo porque preciso de continuar forte. Vulnerável nestas palavras sinceras. Porque este texto sou eu, como hoje acordei. A pensar em ti. Lágrimas de saudades. E como sempre me obrigas a enfrentar-me de frente. Essa lição ficará para sempre em mim. Tornei-me na minha maior prioridade. Ia fazer as minhas coisas. Os meus sonhos. Tantas as vezes que as horas se multiplicavam só para te ver. Não me arrependo de cada troca de agenda que fiz por ti.
Estou a escrever e vejo momentos teus nos meus olhos neste instante.
O meu ar aperta-se em saudades. O coração em ferida. A alma vergada. A tristeza nos meus passos.
Vou deixar-me ficar assim hoje. Vou permitir-me estar triste. Mas não tem mal. É mesmo assim.

Imagem : Internet

 

#pensamentos

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Da minha janela da cozinha. Um horizonte fechado para recolhimento. Sozinhos sem ninguém. Conversas introspectivas. Aquelas que nos descobrem a essência.
Visão turva do amanhã. A incerteza do que estará do outro lado deste nevoeiro. A neblina que nos abraça o coração. Que nos tenta tranquilizar o medo.
A chuva que são lágrimas de solidão. Que regam essa terra que germina vida.
Da minha janela da cozinha, um pássaro livre e feliz. Como tantos que nunca perceberam que é na simplicidade de voar a vida que somos felizes. Não há inveja na liberdade desse pássaro. Estou em casa, mas livre em ser quem sou. Há amor por mim e em mim.
Da minha janela da cozinha. A saudade na alma.
Da minha janela da cozinha. Um novo recomeçar à minha espera lá fora no meio desse nevoeiro.

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