Teimamos no silêncio
Teimamos nisto do silêncio. De não falarmos de voz assumida. Fugimos das conversas superficiais do tempo e dos livros de 1000 páginas que carrego nas minhas mãos. Estamos ali perto e fugimos de uma troca de palavras. Medo de vaguear e nos abeirarmos no abismo das emoções. De ser impossível a voz fingir que nos somos indiferentes. Por isso nesses metros de distância, ficamos petrificados em silêncio. A leitura que fica paralisada nos meus passos. Porque o silêncio é um nosso acordo de cavalheiros.
Somos maratonistas vencedores de fazermos ultrapassagens mútuas como se não estivéssemos ali. Contornamos os nossos corpos como se fosse uma corrida de obstáculos. Nem licença pedimos. Porque teimamos nisto do nosso tão silêncio. Escrevemos um contrato de silêncio quando marcamos este reencontro. No próximo acordo não voltarei a aceitar esta cláusula de mutismo.
No entanto, no caminho do nosso silêncio, as nossas almas dialogam. Ouvimos a voz dos nossos corações em sintonia de conversas. Os nossos lábios cerrados. A nossa mente que abre a porta um ao outro. Grito à janela do meu rosto pelos teus olhos. E tu, aproximas os teus olhos mel-outono da minha direção. Deixamos-los falar no confronto frente a frente. À nossa volta tanto ruído. Em nós, o mais profundo silêncio.
Compreendemos-nos na interação sublime de alma. Perdoamos o nosso silêncio um ao outro.
Eu escrevo-te o meu coração. Tu ouves-me na tua alma. Porque teimamos nisto do silêncio. Até ao dia em que rasgarmos os medos das palavras.
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