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O sopro mágico das palavras

O sopro mágico das palavras

Dia 23 do confinamento e um girassol

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A chuva acordou o sono que despertava cedo na manhã para a minha meditação. Estamos no vigésimo terceiro dia do confinamento. O céu estava negro. As sombras das árvores bailavam em sintonia com a minha respiração. O vento uivava nas frestas das janelas. O único ruído que me chegava da rua deserta às 7h e pouco.
Sábado. Manhã de compras depois do pequeno-almoço caseiro.
No meio dos sacos por entre o arroz, cenouras, ovos, fiambre, queijo e outros produtos, vinha um girassol.
Enquanto caminhava, olhei a florista de porta aberta. Entrei para ver o que havia em épocas atípicas. Trouxe um ramo de flores de margaridas que a minha avó tanto adorava. Mas o meu girassol insistia num intenso olhar para mim. Tive de o trazer. Porque o girassol é a flor do sol. A flor que se move em direção ao sol.
O girassol que simboliza o sol que somos e o brilho que temos em nós que temos de mostrar. Só temos de olhar na direção certa. O caminho de quem verdadeiramente somos.
Temos de olhar a luz e fugir da escuridão que outrora podemos ter sido. Clarear o negrume que às vezes ainda paira sobre nós.
Quero ser girassol de luz. De alma luminosa. Só isso.
Dizem os sábios populares que o girassol é felicidade. Por isso quis trazer flores felizes para alegrar dias tristes. Aquela flor que faz lembrar sorrisos que nos são felicidade. E olhares que nos aconchegam o coração.
O girassol vestiu a cor do sol. Por isso é feliz. Cheio de amor para dar. E nós transbordamos em amor que recebemos de uma simples flor.
Há uma beleza tão perfeita no girassol. Como o nosso coração deve ser bonito. Feito de amor e de doces emoções. Só assim poderemos emanar essa graciosidade na pele.
Chovia, mas fiquei ali na janela a olhar o meu girassol. A agradecer todas as pequenas felicidades que tenho. Os meus sóis que iluminam a minha busca interior. Os girassóis de amor que se cruzam comigo na minha viagem pessoal.
O girassol é uma espécie de metáfora da vida. Assim como a luz solar alimenta o girassol, a luz divina nutre o nosso o espírito.
Sejamos um girassol. Sejamos sol, amor e vida.

Dia 22 do confinamento e há lixo no chão

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Depois de 22 dias de confinamento continua-se a não aprender nada com os desafios que o universo nos lança. Parece que continua a ser difícil compreender os sinais de alerta. Continuamos no deixa andar, pois salvar o planeta é só uma moda para a malta alternativa. Não é para todos, pensam algumas mentes que vivem na escuridão.
Eram 8h quando sai para ir comprar o pão e o jornal. A volta dos 30 minutos. Deparo-me na esquina do meu prédio com este cenário tantas vezes repetido. Levava plástico e vidro para reciclar. Contentores vazios com tanto espaço à espera do nosso lixo. No entanto, era no passeio que estavam sacos com vários tipos de plástico, garrafas de vidro e caixas pequenas de papel. Um cenário desnecessário de existir. Um ultraje à nossa mãe Terra, aquela mesma que temos de proteger e não assassinar. Gestos destes são ferir ainda mais a já fragilidade da nossa querida Terra.
Não consigo compreender estas pessoas. É a pressa sem sentido que as faz largar tudo no chão? É uma espécie de nojo de tocar no lixo dentro do saco que elas próprias produzem? Ou então é a mais estúpida inconsciência.
Matamos a natureza aos poucos sem que esta gentinha, que não tem outra designação possível, perceba que matar o planeta é matarem-se a si mesmas e às gerações futuras.
Com gestos assim, não se admirem que o universo continue a dar-nos desafios cada vez mais duros.
Vivemos tempos para abrir os olhos. De elevar a nossa consciência e vibração energética.
Mas com pessoas assim, vai ser um processo tão, mas tão difícil.
É simples de aprender, o lixo é nos contentores. Se não entendem isto, como podem assimilar tudo o resto desta Era de Aquário que está a chegar?

As estrelas do vigésimo dia de confinamento

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Assim sem darmos conta, chegamos ao vigésimo dia de confinamento.
Embora já sintamos em nós o peso do momento que enfrentamos, ar apresentava-se ligeiro. As nuvens dissiparam-se dando lugar a um céu estrelado. A chuva deu tréguas. O frio aqueceu. Agarrei nessa bandeira branca da natureza e lá fui na volta da tarde. Descontraída e livre de amarras.
Apetecia-me olhar as estrelas. Caminhei nos passeios, atravessei passadeiras e cheguei a uma espécie de descampado citadino a minutos de casa. Mesmo com prédios em redor, havia ali um espaço na penumbra, sem candeeiros que ofuscassem o firmamento. Via nitidamente os pontinhos brilhantes. De telemóvel em riste, aplicação a funcionar, lá estavam as minhas mãos numa sublime sincronicidade com os meus olhos. A descobrir as estrelas que me observavam. As constelações eram desenhadas acima da minha cabeça. Os planetas lá no alto a indicar rotas de vida.
Quem me visse, podia achar que estava louca de telemóvel a olhar o céu. Pouco me importei. Por lá continuei alguns longos minutos. Estava a ser eu. Maravilhada com a espectacularidade do universo. Tudo tão perfeito. A ordem no aleatório.
No entanto, senti uma claridade tão perto de mim. Um brilho palpável. Vi estrelas tão reais. Daquelas que nos enchem o coração de amor. Que transbordam em afetos.
Porque existem verdadeiros astros perto de nós. Aqueles que tantas vezes nos iluminam os dias negros. Que nos obrigam a sorrir só porque sim. Pessoas reais. Com nome e idade.
Só precisamos de estar atentos para descobrir essas estrelas feitas de açúcar e amor. E deixá-las que se agarrem à nossa alma. Para nos serem luz.
Regressei ao confinamento de olhos felizes. Por estar a olhar as estrelas.

Imagem : Internet

As canetas do décimo nono dia de confinamento

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Inspirada pelas faúlhas brancas dos teus cabelos, resolvi dar cor ao décimo nono dia de confinamento. São fios de paz que anunciam a tua chegada. Os teus cabelos brancos são o reflexo da luz da lua lá em cima debruçada a olhar para ti. Tão enamorada de ti.
Fui à papelaria e como sempre estava cheia de tentações. Olhei para as canetas. Não resisti. Vieram comigo a pintar o caminho até te ver. Era noite já fechada, mas a tinta era farol para não me perder do teu encontro fugaz.
Não posso usar as minhas novas canetas no ecrã de um telemóvel porque só escrevem na folha branca de papel ainda despida de palavras numa espera de momentos para colorir. São cores que nos resgatam a alegria que se dissipa no meio do terror instalado. São cores arco-íris que nos obrigam a olhar para o horizonte de esperança. São canetas inundadas em brilhantes para nos salpicar as mãos de pontos de amor.
Apaixonei-me imediatamente pelas canetas porque me lembram a doce intensidade das emoções. Porque quero escrever os meus dias com tonalidades de afetos. Pintar a mandala de quem sou em vibração de amor que estas canetas emanam.
Não sei porquê, mas estas canetas fazem lembrar-me de ti. Talvez porque sejam tão bonitas como tu. Ou talvez porque foste tu que me abriste os olhos do coração para ver as cores do universo.
Usar estas canetas é homenagear a essência da vida. É ser grata à cor de amor que és e que me ensinaste a fazer eco em mim.

Ao décimo oitavo dia de confinamento chegou fevereiro

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Ao décimo oitavo dia de confinamento chegou fevereiro, apelidado de mês do amor. Aquele mês que antes odiava por tantos ódios e raivas minhas. A tristeza que me fustigava as veias. A apatia de viver. Antes de perceber como o amor é tudo na vida, porque tudo é amor. O amor é a vibração maior onde devemos dançar os dias.
O amor por nós, então esse amor é o mais sublime de todos os amores que possam existir. O amor que não tem mês. Que não tem dia próprio. O amor mais urgente de encontrar seja qual for o mês. O amar quem somos.
O amor de fevereiro anunciou-se com chuva. Porque o amor é uma bênção. Tantas vezes difícil de resgatar das sombras dos nossos demónios. No abismo para onde atiramos o amor próprio.
A chuva vinha abraçada à leveza do nevoeiro que desceu para nos aconchegar a tarde de trabalho. Porque quando salvamos o amor da escuridão de onde o nosso coração se encontra, a nossa alma torna-se ligeira e voa nessa luz que rasga as trevas de quem nos éramos. Nessa altura renascemos em amor.
E neste mês de amor que chega, o teu rosto a vaguear por aí. A espalhar amor por onde passa. Pode estar a chover. Pode estar uma noite de nevoeiro. Mas o esplendor dos teus olhos transformam tudo numa terna graciosidade de se ver. Pelo menos a mim deixas-me o olhar em luz. E tudo é tão bonito à minha volta. O pormenor do ramo da árvore. O cantar do melro. O andar livre à chuva, mesmo que esteja de máscara. O meu braço que se mistura no nevoeiro.
Olhar-te de soslaio é sentir que o meu coração já encontrou o caminho para se amar, seja qual for o mês que o calendário anuncia.
Que fevereiro nos traga o amor que tanto precisamos. O amor por nós.

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