A manhã do dia 39 de confinamento
Amanhece o dia 39 de confinamento em mais uma semana de trabalho por casa.
O céu está de um azul transparente. De tom cristalino. Nem parece que tivemos um sábado de chuvas intensas. O sol já brilha e ainda pouco passa das 8h30. Já se sente o aroma a primavera no ar. As manhãs chegam mais cedo e as noites começam a anunciar-se mais tarde. A época das flores tão perto.
Estamos em confinamento. Não posso estar nos meus bancos do jardim de livro ao colo porque os bancos estão selados e as minhas esplanadas matinais estão fechadas. Arranjar alternativas.
O dia de trabalho aproxima-se. O picar o ponto já pisca no computador.
Entretanto ainda tenho os meus minutos do pequeno-almoço.
Os pardais e melros cantam para mim no som que entra pelas frestas das janelas. O tempo está convidativo a estar lá fora. Pego na chávena com o meu unicórnio, naquele tamanho preferido da minha avó. Com o café de cereais que ela tanto gostava logo pela manhã e que agora passou a ser hábito meu. As heranças surgem assim de forma inesperada.
Deixo-me estar na janela ainda com a humidade da noite. A sweat aquece os braços. O café ferve ao entrar no corpo.
Fico por ali tranquila a observar as hortas. As couves que nascem. A terra revolvida para novas colheitas. A água silenciosa para deixar os pássaros andarem por ali à procura de migalhas.
A escola fechada. Os carros estacionados. Uma rua calma. Tudo tão sereno. Temos de aprender essa serenidade no coração.
Os minutos passam devagar enquanto o café calmamente vai sendo bebido.
Às vezes precisamos de momentos aparentemente tão banais para olharmos para a simplicidade da vida.
Às vezes estes minutos só nossos são mesmo só para nós. Para estarmos connosco mesmos. Nesse tempo tão precioso para nós.