Até já ginásio,
Este novo confinamento acordou-me num dia de fecho de portas que me corrói a alma. O meu ginásio encerrou. Uma das muitas vítimas do colapso iminente da economia. E muitos de nós continuam a fechar os olhos como se tudo estivesse bem, preocupando-se só com o seu umbigo a transbordar de egoísmo.
Escrever estas palavras, traz-me à memória tanto que vivi neste ginásio (embora com diferentes gerências) nestes últimos quase 7 anos. Lembro-me de me inscrever e achar que depressa iria desistir porque eu era anti desporto. Era um ódio que trazia comigo desde a escola, talvez pela minha baixa autoestima e de não conseguir fazer determinados exercícios porque tinha excesso de peso. Ali aos poucos, fui começando a gostar de exercício. Das aulas. Das colegas. Das instrutoras. Dei por mim a não me preocupar se errava os passos de zumba ou se a colega do lado fazia mais agachamentos que eu. Aprendi que eu tinha de me superar a mim mesma e não me comparar com os outros. Assim o tenho feito. Das maiores lições que o desporto e o ginásio me trouxe.
Sei hoje que a vida me presenteou com as(os) melhores instrutoras (es) que alguma vez podia ter conhecido. O seu amor, dedicação e profissionalismo são inquestionáveis. A motivação para nunca desistirmos é inigualável. Se hoje me viciei em exercício, sem dúvida que foram elas que plantaram essa semente dentro de mim. Trarei sempre as minhas miúdas no meu coração. Vocês fazem parte de um caminho meu que tenho feito e no qual o vosso nome está escrito. Serei eternamente grata por vos ter na minha vida.
Não tenho vergonha de dizer que nesse início longínquo ia tantas vezes contrariada para o ginásio. Ainda o sentia uma obrigação. Um local que ia porque me sentia sozinha. Ou era o ginásio ou era a aparente solidão. Aos poucos fui dando por mim a correr para não chegar atrasada às aulas. O desporto estava a tornar-me mais leve, mais feliz. Estava a fazer sentir-me bem comigo mesma. Hoje não dispenso as minhas aulas, o transpirar, o renovar as energias. Quando noutros tempos me diziam que o desporto era dos melhores remédios para a saúde e depressão não acreditava. Agora, aconselho todos, dentro das suas limitações físicas, a fazer. É algo que nos muda para melhor. Que nos traz um equilíbrio emocional que muitos medicamentos não trazem.
Em teletrabalho há 10 meses, tenho feito muitas aulas em casa. Chego a fazer sete treinos numa semana. Sei que tem sido uma terapia que me tem feito aguentar este momento. Por isso, choca-me ver tantas pessoas que ainda não foram afetadas financeiramente a desistir do ginásio. Às vezes uma mensalidade pode ser a diferença entre o estar bem ou cair numa profunda depressão. Existem aulas online que podemos fazer em casa. Também achava que seria impossível fazê-las no meu quarto. Afinal era só tirar o tapete e afastar uma cadeira e tenho espaço para muitos exercícios. É preciso querer e não desistir.
Não deixem que mais ginásios fechem. Fala alguém que há 10 anos tinha um ódio de morte ao desporto. Por isso, sei por mim, pelo meu corpo, pela minha mente, pelo meu coração, o quanto o desporto nos pode salvar de uma depressão. Que o desporto nos traz vontade de viver e de ser feliz. Podemos estar quase sem ar depois de uma aula, mas o sorriso de leveza é só nosso. E ninguém nos tira isso.
Conheci no desporto amizades que levo para a vida. As conversas. Os eventos. Os jantares. As fotos. O sofrimento nas aulas. O apoio mútuo para aguentar o exercício. Os famosos empurrões da minha Luisinha. São memórias que estarão sempre no meu coração à espera de serem repetidas.
Estou de coração despedaçado por estas portas que se fecham. A minha vida mudou dentro destas paredes. Tenho esperança de que se voltem a reabrir. Existem laços que nasceram ali e não podem estar soltos.
Por isso, quero acreditar que voltaremos a estar todos juntos, e a dizer que as minhas miúdas “estão loucas”.
Mas até lá, um sentido e profundo obrigada por tudo
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