Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

O sopro mágico das palavras

O sopro mágico das palavras

Caminhos tristes

eric-ward-akT1bnnuMMk-unsplash.jpg

Às vezes sinto como se as ruas me tivessem morrido porque não te vejo nelas. Como se a vida que nelas existia estivesse perdida algures e ao encontrar-te iria recuperar essa vida desaparecida. Mas andamos desorientados nisto. Sem pontos cardeais para nos guiarem o norte e o sul destes corações.
Às vezes quando caminho por essas ruas, há uma tristeza que nelas vive que é tão minha. Ou então sou eu que deixo nesses passeios o desgosto que me assola. Um silêncio calado que não grita. Que se dilui dentro de mim e que te escreve para se libertar.
Olho para o relógio e quando os ponteiros param naquelas que eram as minhas horas, paro no vazio que sinto. O teu vazio. Ainda não me esqueci das nossas horas. Quando os meus olhos podiam tocar o teu rosto apenas com o meu medo. Sem estes medos do presente que se redige. Sem as assombrações das máscaras que nos escondem o sorriso. Ainda me lembro dos meus lugares. Lugares simples. Que me levavam até ti. Por isso me eram tão especiais. Não sei quando lá voltarei. A esses lugares. Quando lá voltaremos. Agora até nos encerram as estradas onde a minha alma aprendeu a sorrir. Trajetos suspensos tal como os nossos dias que se encontram pendentes à espera de um sinal para construir uma nova normalidade. Por ti construi as minhas rotinas secretas. Construiria novas se isso significasse que te podia apenas e somente ver. O que faz uma alma que se guia pelo que sente. Recordo tanto disso que fazia nessas minhas pequenas loucuras e inundo-me em saudades.
Este vírus trouxe-me as saudades. As saudades de os meus joelhos tremerem. Dos pontapés no meu estômago. Da ansiedade saudável nessa incerteza de te ver. Das correrias de fechar o computador e sair para longe dali se esse longe fosse um segundo perto de ti. Saudades do frio que não me constipava. Saudades da tranquilidade em mim porque fui lá ver-te. Saudades das minhas conversas com o universo sobre o teu paradeiro. Antes ainda me respondia. Agora há tantas interferências que não o consigo ouvir. Quiçá me diga que até podes estar perto, mas esse perto para mim é uma lonjura que não posso encurtar. Talvez o universo esteja em silêncio a consolar-me a dor da tua ausência.
Enquanto estávamos quase todos nessa quarentena forçada, sabia que lá fora estava tudo encerrado para mim. Por isso me foi tão fácil o estar em casa. Mas este desconfinamento faz-me doer o que não me doía antes. Poder fugir uns minutos e continuar-me a sentir presa porque os meus pés estão colados a este chão. Porque os meus pés só querem tropeçar na tua alma.
Já não estamos em estado de emergência. Continua a haver uma emergência em nós. Há uma urgência de viver. Cada um com emergências distintas. Com urgências definidas.
Tenho urgência nessa emergência de ver esse rosto teu que o tempo não apagou de mim.

Imagem : Internet

1 comentário

Comentar post