Dás-me vontade de chorar
Dás-me vontade de chorar. Nada me fizeste para tal. Há um tratado de respeito entre as nossas almas que não nos fazem desviar da integridade dos nossos corpos.
Os nossos olhos continuam a conversar naquele nosso silêncio que só nós conhecemos. No entanto algo mudou. E isso que nos mudou faz-me pintar o rosto de lágrimas.
Encosto-me nessa janela da vida que nos corre. O ar da noite congela-me o meu respirar. Mas essas lágrimas choram-me na alma qual rio turbulento ansioso por desaguar no mar onde posso nadar numa liberdade de ser feliz que há tanto me escapa ao coração.
Talvez esta vontade que tenho de chorar. De te chorar. Seja esta minha ferida que precisa de chorar para se limpar. Talvez a ferida que trago tenha memórias tuas. E as memórias precisam de se libertar e voar.
Dás-me vontade de chorar. Não para curar a ferida. Mas para saber tê-la dentro de mim. Para a acalmar. Falar com a minha ferida como a tua alma me sussurra dói. Para aprender a minha ferida tenho de conhecer o seu abismo. E tu trouxeste-me a ferida para me tornar mais forte.
Dás-me vontade de chorar. Chorar não é fraqueza. É assumir quem sou e o que sinto.
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