Dias....
Olho para a natureza e na sua simplicidade tento encontrar essa luz que a sombra dos dias parece tantas vezes ofuscar. Tantas ocasiões em que sinto que os dias têm um aroma a melancolia. Agradeço tanto aqueles pequenos, mas gigantes momentos que me aconchegam a alma. No entanto tenho em mim uma tristeza que me acompanha sem nunca me abandonar. Que está nos meus olhos. Que vive no meu sorriso. Que poucos julgam existir dentro de mim. Apenas as palavras tornam pública esse meu lado oculto. Aquela tristeza que são as saudades de ti e desse rosto. Fazem-me falta aqueles fins de tarde onde me renascia a motivação. Aquele caminhar sem sentido, mas que me caminhava de encontro a mim mesma. Nada é sem sentido. Por ti, descobria quem eu sou. Fazem-me falta esses olhos de conversas silenciosas. Os dias de desconfinamento trazem no barulho da rua um silêncio que me espanca o coração de memórias tão tuas. O ruído dessa nova normalidade ensurdece-me os sentidos da tua ausência.
Hoje as trivialidades desse acaso levaram os meus passos, nessas horas já de fim de tarde, aquele local onde tantas vezes te deixava ir e eu ficava ali de joelhos a tremelicarem de uma emoção apenas por te ver. Que crime hediondo este meu de desejar-te ver. Senti a minha alma esbofetear-me como se me quisesse largar. Desamparar-me para ir ao teu encontro. A máscara que nos oculta o sorriso jamais pode esconder a alma tua. Se os meus olhos não te reconhecessem, a vida já me teria morrido no olhar. Aprumas a minha visão para a importância daquilo que realmente é essencial. Ensinas-me a ver.
Esse teu rosto longínquo, que os pés não alcançaram, parece envelhecido pela quarentena. Quis parar o momento. Mas o relógio esmagou-me a vontade. Queria apenas olhar para ti. Ver-te perto sem velocidades. Foi demasiado apressado para as semanas de saudades que levo de ti.
Apetece-me tanto voltar lá. Hoje, amanhã e nos depois de amanhã. Lá onde quer que estejas. Precisar de libertar-me do computador. Respirar. Desconfinar de malmequer na mão nesses largos terrenos que por lá habitam. Ver-te bem. Saber-te feliz. É isso que mais me importa.